terça-feira, 30 de novembro de 2010

PORQUE NÃO ACREDITO EM DEUS

Atualmente estou meio "desviado" do meu blog, enrolado com trabalho e estudos. Encontrei este texto a uns dias atrás no blog do Petrus e solicitei a ele permissão para postar. Como já recebi sua autorização, aí está. Abraços.






Porque não acredito em deus

Sempre fui muito subjetivo em falar sobre deus, com textos metafóricos, contos e poesias, falei sobre o divino e o além. Então, resolvi escrever claramente sobre os motivos de não crer em espíritos, numa vida além, um pai celeste que me ama e quer me salvar. Listarei os pontos e os comentarei:

- A voz de deus não me responde

Os fiéis dirão que eu não ouço deus porque não acredito. Preciso crer. Mas, quando eu acreditava e me esforçava para ser ouvido e acreditava que deus falava comigo através de mensagens eu também nada ouvia. Quando criança, uma ingênua criança do senhor, eu falava com deus e esperava suas respostas, mas ele não me respondia e quando eu tinha ideias ou coisas aconteciam, eu creditava na conta de deus (foi Ele!) e quando as coisas davam erradas, eu não tive fé suficiente. Hoje, vejo como era ingênua minha vontade de defender deus, achando que tudo certo era por causa dele e errado por minha culpa ou do diabo. Ora, todas as ideias e a confiança que eu tive, afinal, vieram da minha cabeça e a confiança era em mim mesmo. Você já ouviu deus? Já o viu? Já o sentiu ou apenas colocou, indiscrimidamente, as vantagens obtidas como dadas por deus e os prejuízos na conta do diabo ou na sua falta de fé?

- Os olhos de deus não me vêem

Eu não vejo nada além, eu não vejo espíritos, não os ouço, não os sinto. Por que deveria acreditar? Acreditei em deus desde a minha infância simplesmente por ter sido imposto para mim. Eu acreditava porque me diziam que existia, mas, eu jamais vi alguma coisa. Eu via vultos pelo canto do olho e quando olhava, nada estava lá: para mim, aquilo era um espírito tentando se comunicar. Deixei de acreditar em espíritos e onde eles estão agora? Não há vultos, não há nada. Deus se esconde daqueles que não lhe tem fé? Pois não são esses que mais necessitam? Acreditar me fazia ver coisas, mas isso não quer dizer que existiam.

- Os ouvidos de deus não me escutam

Nunca perdi um ente querido, não tive um trágico acidente, nada me aconteceu para que eu ficasse com raiva de deus e deixasse de acreditar numa presença divina e é justamente por isso que não acredito! As pessoas só acreditam em deus pelas razões: acreditam desde a infância, “sentiu” a presença de algo maior ou algo terrível aconteceu em suas vidas e ela sentiu a necessidade de apoio. Percebe-se como são motivos infantis, baseados mais na ingenuidade da cabeça e no desespero da pessoa do que em razões fortes, baseadas no pensamento. Por que fé é o contrário da razão? Deus criou um mundo material, mas seu mundo espiritual está protegido contra a inteligência? Tudo que é pensado sobre deus é tido como uma falha: a fé deve ser sentida, apenas, e jamais pensada. Ora, por quê? Deus não tem explicações sobre si mesmo? Nada no mundo espiritual pode ser explicado? A inteligência humana, que “deus” nos deu, tem como principal utilidade a contestação, se “deus” quisesse que acreditássemos sem questionar não teríamos o raciocínio, não é?

Deus não existirá porque o mundo precisa

Deus não existirá porque eu sofro. Deus não existirá porque estou sozinho. Deus não existirá porque tenho problemas a ser resolvido. Deus não existirá porque nasci sem as pernas, porque nasci cego, porque nasci corcunda, porque minha mulher me traiu, porque meus filhos usam drogas, porque o mundo é injusto. A natureza não é justa ou injusta, ela não tem lados. Cada um nasce como nasce e é essa a beleza da vida. Não existir uma vida após a morte torna tudo mais valioso: o que é breve é mais importante e faz ainda mais sentido. Não sinto tristeza por não acreditar em algo além, sinto-me feliz por saber que tudo em vida vale a pena, mesmo as dificuldades. Os problemas, as dores, as tristezas fazem parte da vida e refutá-las como coisas do maligno, do diabo, obstáculos desnecessários para a vida é não desfrutar o que a natureza lhe oferece. Não apenas uma vida cheia de prazeres, mas sim uma vida completa: além do prazer, a dor; além da alegria, a tristeza; além da companhia, a solidão; além da calma, o desespero. Conhecer os lados, ir e vir, faz parte do viver. A moralidade, a ética, o respeito pela humanidade não vem de deus ou das religiões. Sócrates já explicava, séculos antes de Jesus nascer, as vantagens de ser justo comparado com o injusto. A justiça não é divina, é humana e o homem não é superior a natureza. Se a moralidade ensinada pelas religiões, em especial a cristã, fosse especial e divina, o mundo seria melhor, já que a maior parte da sociedade acredita em deus. Mas, ao invés disso, nós aprendemos e erramos e consertamos o errado. Cortamos da nossa vida os ensinamentos morais idiotas da Bíblia como “Apedrejar o filho desobediente até a morte” (Deuterônimo cap. 21, vers. e18-21) ou quando diz que a mulher deve ser submissa e ficar em silêncio na presença do homem e que não exerça autoridade sobre o macho (I Timotéo, cap. 2, vers. 8-15), porque a sociedade aprendeu e não porque deus nos ensinou (visto que “ele nos ensinou” o contrário!). Porque se deus junto com seus ensinamentos da Bíblia ou qualquer outro livro sagrado fosse o único padrão da moralidade e se a sociedade não se adaptasse e usasse sua inteligência para melhorar-se moralmente, estaríamos ainda hoje apedrejando mulheres até a morte e destruindo aqueles que não acreditam em nossa fé (assim como os extremistas e oportunistas do islamismo vivem até hoje e nos horrorizam com suas interpretações estúpidas de sua religião). A única forma que as pessoas podem viver para sempre é deixando um legado para o mundo, uma obra importante para a sociedade e que levará o seu nome e sua utilidade enquanto a humanidade existir. Esta é a eternidade que nos espera.



domingo, 14 de novembro de 2010

Miserável e Maldito Mendigo




Era uma manhã normal de sábado.

Tive que ir à faculdade, perdendo assim, uma partida de futebol dos meus meninos. Ainda bem que eles jogaram em casa.

Resolvi ir de ônibus, assim, economizava gasolina e, aproveitava para continuar minha leitura de "As formas elementares da vida religiosa" de Émile Durkheim.

No percurso de minha casa à faculdade existe um terminal, o terminal de Campo Grande, no município de Cariacica.

Peguei o ônibus aqui em Viana, desci no terminal de Campo Grande, e entrei na fila do outro ônibus em direção à faculdade.

Havia em um banco próximo à fila um senhor, aparentemente idoso, barbudo, sujo, carregando um saco típico dos andarilhos e moradores de rua. Alguns levam sua "casa" nas costas.

Assim que o ônibus chegou, o senhor mendigo entra senta e, nós, os "normais" vamos ocupando os demais lugares, deixando-o "à vontade" em seu banco.

Eu, logicamente bastante perfumado não iria querer sentar ao lado dele.

Sentei de costas no fundo do ônibus porque acho melhor para ler, nas frenagens fico apoiado com as costas no banco e não fico indo e voltando para a frente.

Olhei para trás e vi que uma linda garota havia sentado ao lado do mendigo, logo que percebera o aroma ela se levantou e ocupou o banco do outro lado, na direção do banco que eu estava, também de costas.

Estava tranquilo, lendo e ouvindo música de meu celular. Coloco música para ler, principalmente em inglês, ou apenas música clássica para não ter minha atenção desviada por conversa de terceiros, porque em ônibus sempre tem aqueles que conversam pra todos ouvirem.

Quando o ônibus andava, dava para respirar, quando parava eu treinava minha capacidade de mergulho. Olhava para as pessoas, umas com a camisa no nariz, outras com a cabeça para fora da janela.

Até aí tudo normal.

De repente dois homens começam a conversar. Minha atenção é voltada ao diálogo:
"O fiscal tinha que ter visto isso e não deixar que ele entrasse no ônibus."
"Ele tinha que ser colocado para fora"
"Isso é uma pouca vergonha"

As pessoas começaram unanimemente a concordar com o "massacre do mendigo".

Até aí, tudo normal (?). Sim, por incrível que pareça, era normal.

Um dos homens desceu ao chegar em seu ponto, desejando "boa sorte" aos demais e rindo muito.

Neste instante eu já havia reduzido o volume da música e marcado a página do livro onde estava lendo.

Uma frase do homem que ficara, direcionada aos demais fez com que eu tirasse os fones do ouvido.

"Isso não é de Deus".

Pensei: "Opa, alguém me chamou" (não que eu seja Deus, mas, pelo fato de que Deus está sempre nas frases que ouço no meu dia-a-dia. Sempre tem um que chega e concede autoria de coisas normais ao todo-fuderoso, ops, todo-poderoso. Futebol, lá vem um gol feito graças a Deus. Economia, lá vem um graças a Deus porque troquei de carro. Saúde, lá vem um graças a Deus porque a gripe foi embora. E por aí vai.)

A frase seguinte foi a gota d'água: "Isso não é um ser humano!!!".

Olhei para o homem e veja o diálogo que se seguiu:
Odlave - Se ele não é um ser humano o senhor poderia por gentileza definir para mim o que ele é?
Sujeito - Não, eu não estou discriminando, eu não disse que ele não é um ser humano.
Odlave - Mas foi exatamente o que eu acabei de ouvir. Você disse "isso não é um ser humano". Eu acordei em minha casa, beijei esposa e meus dois filhos, tomei um banho, tomei café, coloquei uma roupa legal, passei perfume Ferrari e estou indo à faculdade. Para mim é muito confortável dizer que este senhor não é gente. Para você também. Agora, eu não conheço ele, você conhece ele? Você sabe o que se passa na vida dele para querer simplesmente colocá-lo para fora do ônibus? Você quer o que? Que ele vá a pé de Campo Grande até a Serra?
Sujeito - Rapaz, eu bebia muito, era para eu estar igual a ele, porém, eu li a Bíblia e conheci a Deus.
Odlave - E daí? Eu te pergunto, e daí? Eu nunca fiz nada para ajudar este senhor e não é por isso que vou chutá-lo para fora do ônibus.
Sujeito - Eu li a Bíblia e conheci a Deus, você já leu a Bíblia?
Odlave - Quatro vezes está bom para você? Já li a Bíblia judaico-cristão quatro vezes, li parte do Alcorão, vedas, livros hindus e budistas, revistas, sites, blogs diversos outros conteúdos sobre religião e não encontrei em nenhum deles argumentos para colocar um mendigo para fora do ônibus. Muito pelo contrário, por ter lido tais livros é que sei que devo respeitá-lo e, se possível ajudá-lo e não discriminá-lo. O mesmo Deus que você conhece ele também conhece.
Sujeito - Deus faz a parte dele mas nós temos que fazer a nossa.
Odlave - Você acha que ele está sem tomar banho e sem comer porque quer? Você acha? Quando eu era criança, um tio meu "surtou", foi a pé de Campo Grande a Guarapari, dias sem tomar banho e sem comer. Ele não foi pelo acostamento, ele foi pelo centro da pista, os carros e caminhões iam desviando dele. Um caminhoneiro que o reconheceu comunicou a nossa família, ele foi encontrado na mesma situação deste homem aqui.
Sabe qual o seu problema? A sua religião te ensinou a ser egoísta, nós os ocidentais somos egoístas, nosso lema é "cada um por si e Deus por todos".
Nós somos mesquinhos e egoístas. Eu sou mesquinho e egoísta.


Observei que o olhar e semblante das pessoas haviam mudado. Olhei no olho de uma senhora e um jovem e percebi que eles haviam agora observado o outro lado da coisa. Antes criticando, agora refletindo.

Chegou ao meu ponto, dei sinal, desci, o mendigo prosseguiu seu caminho, não sei se o verei novamente. Nada fiz por ele. Talvez minhas palavras sirvam para aquelas pessoas, talvez não.

Acho que eu fiquei um pouco nervoso em minhas palavras, o nervosismo faz esquecermos detalhes importantes.

Ao descer do ônibus veio em minha mente algo que eu não poderia ter esquecido. Uma frase do livro "Porque você não quer mais ir à igreja?" que é: "Você realmente conhece Jesus?".

Eu me odiei ("ai, que ódio, rsrs") porque para fechar o assunto deveria ter dito:
"Você diz que já leu a Bíblia e que ela mudou sua vida, certo? Você é cristão, certo? Mas será que você conhece realmente Jesus? Se sim, onde ele tomou banho nos quarenta dias e quarenta noites que passou no deserto? Quer saber, aquele homem é Jesus depois de quarenta dias no deserto sem barbeador, água ou perfume Ferrari. Boa viagem senhor religioso.".


História real, aconteceu dentro do ônibus 591 (Campo Grande x Serra).


Texto escrito por um idiota nada religioso:
Odlave Sreklow.

Imagem: http://www.artshopping.com.br/lojavirtual/images/charge_congresso_mendigo.gif

sábado, 13 de novembro de 2010

QUEM ESCREVEU A BÍBLIA?




A história de Deus foi escrita pelos homens. Mas quem é o autor do livro mais influente de todos os tempos? As respostas são surpreendentes - e vão mudar sua maneira de ver as Escrituras

por Texto José Francisco Botelho

Em algum lugar do Oriente Médio, por volta do século 10 a.C., uma pessoa decidiu escrever um livro. Pegou uma pena, nanquim e folhas de papiro (uma planta importada do Egito) e começou a contar uma história mágica, diferente de tudo o que já havia sido escrito. Era tão forte, mas tão forte, que virou uma obsessão. Durante os 1 000 anos seguintes, outras pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e compilando aquele texto, que viria a se tornar o maior best seller de todos os tempos: a Bíblia. Ela apresentou uma teoria para o surgimento do homem, trouxe os fundamentos do judaísmo e do cristianismo, influenciou o surgimento do islã, mudou a história da arte – sem a Bíblia, não existiriam os afrescos de Michelangelo nem os quadros de Leonardo da Vinci – e nos legou noções básicas da vida moderna, como os direitos humanos e o livre-arbítrio. Mas quem escreveu, afinal, o livro mais importante que a humanidade já viu? Quem eram e o que pensavam essas pessoas? Como criaram o enredo, e quem ditou a voz e o estilo de Deus? O que está na Bíblia deve ser levado ao pé da letra, o que até hoje provoca conflitos armados? A resposta tradicional você já conhece: segundo a tradição judaico-cristã, o autor da Bíblia é o próprio Todo-Poderoso. E ponto final. Mas a verdade é um pouco mais complexa que isso.
A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas. A palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita por reles mortais. Como não sobraram vestígios nem evidências concretas da maioria deles, a chave para encontrá-los está na própria Bíblia. Mas ela não é um simples livro: imagine as Escrituras como uma biblioteca inteira, que guarda textos montados pelo tempo, pela história e pela fé. Aliás, o termo “Bíblia”, que usamos no singular, vem do plural grego ta biblia ta hagia – “os livros sagrados”. A tradição religiosa sempre sustentou que cada livro bíblico foi escrito por um autor claramente identificável. Os 5 primeiros livros do Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos seriam obra do rei Davi, o autor de Juízes seria o profeta Samuel, e assim por diante. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os livros sagrados foram um trabalho coletivo. E há uma boa explicação para isso.
As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria. Durante séculos acreditou-se que Canaã fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da arqueologia revelam que, na maior parte do tempo, Canaã não foi um Estado, mas uma terra sem fronteiras habitada por diversos povos – os hebreus eram apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vizinhos como os cananeus, que viviam ali desde o ano 5000 a.C. E eles não foram os únicos a influenciar as histórias do livro sagrado.
As raízes da árvore bíblica também remontam aos sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3o milênio a.C. escreveram a Epopéia de Gilgamesh. Essa história, protagonizada pelo semideus Gilgamesh, menciona uma enchente que devasta o mundo (e da qual algumas pessoas se salvam construindo um barco). Notou semelhanças com a Bíblia e seus textos sobre o dilúvio, a arca de Noé, o fato de Cristo ser humano e divino ao mesmo tempo? Não é mera coincidência. “A Bíblia era uma obra aberta, com influências de muitas culturas”, afirma o especialista em história antiga Anderson Zalewsky Vargas, da UFRGS.
Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escritores hebreus começaram a colocar essa sopa multicultural no papel. Isso aconteceu após o reinado de Davi, que teria unificado as tribos hebraicas num pequeno e frágil reino por volta do ano 1000 a.C. A primeira versão das Escrituras foi redigida nessa época e corresponde à maior parte do que hoje são o Gênesis e o Êxodo. Nesses livros, o tema principal é a relação passional (e às vezes conflituosa) entre Deus e os homens. Só que, logo no começo da Beeblia, já existiu uma divergência sobre o papel do homem e do Senhor na história toda. Isso porque o personagem principal, Deus, é tratado por dois nomes diferentes.
Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh – traduzido em português como Javé ou Jeová. É um tratamento informal, como se o autor fosse íntimo de Deus. Em outros pontos, o Todo-Poderoso é chamado de Elohim, um título respeitoso e distante (que pode ser traduzido simplesmente como “Deus”). Como se explica isso? Para os fundamentalistas, não tem conversa: Moisés escreveu tudo sozinho e usou os dois nomes simplesmente porque quis. Só que um trecho desse texto narra a morte do próprio Moisés. Isso indica que ele não é o único autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam outra teoria: esses textos tiveram pelo menos outros dois editores.
Acredita-se que os trechos que falam de Javé sejam os mais antigos, escritos numa época em que a religiosidade era menos formal. Eles contêm uma passagem reveladora: antes da criação do mundo, “Yahweh não derramara chuva sobre a terra, e nem havia homem para lavrar o solo”. Essa frase, “não havia homem para lavrar o solo”, indica que, na primeira versão da Bíblia, o homem não era apenas mais uma criação de Deus – ele desempenha um papel ativo e fundamental na história toda. “Nesse relato, o homem é co-criador do mundo”, diz o teólogo Humberto Gonçalves, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, no Rio Grande do Sul.
Pelo nome que usa para se referir a Deus (Javé), o autor desses trechos foi apelidado de Javista. Já o outro autor, que teria vivido por volta de 850 a.C., é apelidado de Eloísta. Mais sisudo e religioso, ele compôs uma narrativa bastante diferente. Ao contrário do Deus-Javé, que fez o mundo num único dia, o Deus-Elohim levou 6 (e descansou no 7o). Nessa história, a criação é um ato exclusivo de Deus, e o homem surge apenas no 6o dia, junto aos animais.
Tempos mais tarde, os dois relatos foram misturados por editores anônimos – e a narrativa do Eloísta, mais comportada, foi parar no início das Escrituras. Começando por aquela frase incrivelmente simples e poderosa, notória até entre quem nunca leu a Bíblia: “E, no início, Deus criou o céu e a terra...”
Em 589 a.C., Jerusalém foi arrasada pelos babilônios, e grande parte da população foi aprisionada e levada para o atual Iraque. Décadas depois, os hebreus foram libertados por Ciro, senhor do Império Persa – um conquistador “esclarecido”, que tinha tolerância religiosa. Aos poucos, os hebreus retornaram a Canaã – mas com sua fé transformada. Agora os sacerdotes judaicos rejeitavam o politeísmo e diziam que Javé era o único e absoluto deus do Universo. “O monoteísmo pode ter surgido pelo contato com os persas – a religião deles, o masdeísmo, pregava a existência de um deus bondoso, Ahura Mazda, em constante combate contra um deus maligno, Arimã. Essa noção se reflete até na idéia cristã de um combate entre Deus e o Diabo”, afirma Zalewsky, da UFRGS.
A versão final do Pentateuco surgiu por volta de 389 a.C. Nessa época, um religioso chamado Esdras liderou um grupo de sacerdotes que mudaram radicalmente o judaísmo – a começar por suas escrituras. Eles editaram os livros anteriores e escreveram a maior parte dos livros Deuteronômio, Números, Levítico e também um dos pontos altos da Bíblia: os 10 Mandamentos. Além de afirmar o monoteísmo sem sombra de dúvidas (“amarás a Deus acima de todas as coisas” é o primeiro mandamento), a reforma conduzida por Esdras impunha leis religiosas bem rígidas, como a proibição do casamento entre hebreus e não-hebreus. Algumas das leis encontradas no Levítico se assemelham à ética moderna dos direitos humanos: “Se um estrangeiro vier morar convosco, não o maltrates. Ama-o como se fosse um de vós”.
Outras passagens, no entanto, descrevem um Senhor belicoso, vingativo e sanguinário, que ordena o extermínio de cidades inteiras – mulheres e crianças incluídas. “Se a religião prega a compaixão, por que os textos sagrados têm tanto ódio?”, pergunta a historiadora americana Karen Armstrong, autora de um novo e provocativo estudo sobre a Bíblia. Para os especialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos de guerras com os assírios e os babilônios. Os autores do livro sagrado foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiram as histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia.
Por volta do ano 200 a.C., o cânone (conjunto de livros sagrados) hebraico já estava finalizado e começou a se alastrar pelo Oriente Médio. A primeira tradução completa do Antigo Testamento é dessa época. Ela foi feita a mando do rei Ptolomeu 2o em Alexandria, no Egito, grande centro cultural da época. Segundo uma lenda, essa tradução (de hebraico para grego) foi realizada por 72 sábios judeus. Por isso, o texto é conhecido como Septuaginta. Além da tradução grega, também surgiram versões do Antigo Testamento no idioma aramaico – que era uma espécie de língua franca do Oriente Médio naquela época.
Dois séculos mais tarde, a Bíblia em aramaico estava bombando: ela era a mais lida na Judéia, na Samária e na Galiléia (províncias que formam os atuais territórios de Israel e da Palestina). Foi aí que um jovem judeu, grande personagem desta história, começou a se destacar. Como Sócrates, Buda e outros pensadores que mudaram o mundo, Jesus de Nazaré nada deixou por escrito – os primeiros textos sobre ele foram produzidos décadas após sua morte.
E o cristianismo já nasceu perseguido: por se recusarem a cultuar os deuses oficiais, os cristãos eram considerados subversivos pelo Império Romano, que dominava boa parte do Oriente Médio desde o século 1 a.C. Foi nesse clima de medo que os cristãos passaram a colocar no papel as histórias de Jesus, que circulavam em aramaico e também em coiné – um dialeto grego falado pelos mais pobres. “Os cristãos queriam compreender suas origens e debater seus problemas de identidade”, diz o teólogo Paulo Nogueira, da Universidade Metodista de São Paulo. Para fazer isso, criaram um novo gênero literário: o evangelho. Esse termo, que vem do grego evangélion (“boa-nova”), é um tipo de narrativa religiosa contando os milagres, os ensinamentos e a vida do Messias.
A maioria dos evangelhos escritos nos séculos 1 e 2 desapareceu. Naquela época, um “livro” era um amontoado de papiros avulsos, enrolados em forma de pergaminho, podendo ser facilmente extraviados e perdidos. Mas alguns evangelhos foram copiados e recopiados à mão, por membros da Igreja. Até que, por volta do século 4, tomaram o formato de códice – um conjunto de folhas de couro encadernadas, ancestral do livro moderno. O problema é que, a essa altura do campeonato, gerações e gerações de copiadores já haviam introduzido alterações nos textos originais – seja por descuido, seja de propósito. “Muitos erros foram feitos nas cópias, erros que às vezes mudaram o sentido dos textos. Em certos casos, tais erros foram também propositais, de acordo com a teologia do escrivão”, afirma o padre e teólogo Luigi Schiavo, da Universidade Católica de Goiás. Quer ver um exemplo?
Sabe aquela famosa cena em que Jesus salva uma adúltera prestes a ser apedrejada? De acordo com especialistas, esse trecho foi inserido no Evangelho de João por algum escriba, por volta do século 3. Isso porque, na época, o cristianismo estava cortando seu cordão umbilical com o judaísmo. E apedrejar adúlteras é uma das leis que os sacerdotes-escritores judeus haviam colocado no Pentateuco. A introdução da cena em que Jesus salva a adúltera passa a idéia de que os ensinamentos de Cristo haviam superado a Torá – e, portanto, os cristãos já não precisavam respeitar ao pé da letra todos os ensinamentos judeus.
A julgar pelo último livro da Bíblia cristã, o Apocalipse (que descreve o fim do mundo), o receio de ter suas narrativas “editadas” era comum entre os autores do Novo Testamento. No versículo 18, lê-se uma terrível ameaça: “Se alguém fizer acréscimos às páginas deste livro, Deus o castigará com as pragas descritas aqui”. Essa ameaça reflete bem o clima dos primeiros séculos do cristianismo: uma verdadeira baderna teológica, com montes de seitas defendendo idéias diferentes sobre Deus e o Messias. A seita dos docetas, por exemplo, acreditava que Jesus não teve um corpo físico. Ele seria um espírito, e sua crucificação e morte não passariam – literalmente – de ilusão de ótica. Já os ebionistas acreditavam que Jesus não nascera Filho de Deus, mas fora adotado, já adulto, pelo Senhor. A primeira tentativa de organizar esse caos das Escrituras ocorreu por volta de 142 – e o responsável não foi um clérigo, mas um rico comerciante de navios chamado Marcião.

A Bíblia segundo Marcião
Ele nasceu na atual Turquia, foi para Roma, converteu-se ao cristianismo, virou um teólogo influente e resolveu montar sua própria seleção de textos sagrados. A Bíblia de Marcião era bem diferente da que conhecemos hoje. Isso porque ele simpatizava com uma seita cristã hoje desaparecida, o gnosticismo. Para os gnósticos, o Deus do Velho Testamento não era o mesmo que enviara Jesus – na verdade, as duas divindades seriam inimigas mortais. O Deus hebraico era monstruoso e sanguinário, e controlava apenas o mundo material. Já o universo espiritual seria dominado por um Deus bondoso, o pai de Jesus. A Bíblia editada por Marcião continha apenas o Evangelho de João, 11 cartas de Paulo e nenhuma página do Velho Testamento. Se as idéias de Marcião tivessem triunfado, hoje as histórias de Adão e Eva no paraíso, a arca de Noé e a travessia do mar Vermelho não fariam parte da cultura ocidental. Mas, por volta de 170, o gnosticismo foi declarado proibido pelas autoridades eclesiásticas, e o primeiro editor da Bíblia cristã acabou excomungado.
Roma, até então pior inimiga dos cristãos, ia se rendendo à nova fé. Em 313, o imperador romano Constantino se aliou à Igreja. Ele pretendia usar a força crescente da nova religião para fortalecer seu império. Para isso, no entanto, precisava de uma fé una e sólida. A pressão de Constantino levou os mais influentes bispos cristãos a se reunirem no Concílio de Nicéia, em 325, para colocar ordem na casa de Deus. Ali, surgiu o cânone do cristianismo – a lista oficial de livros que, segundo a Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus.
“A escolha também era política. Um grupo afirmou seu poder e autoridade sobre os outros”, diz o padre Luigi. Esse grupo era o dos cristãos apostólicos, que ganharam poder ao se aliar com o Império Romano. Os apostólicos eram, por assim dizer, o “partido do governo”. E por isso definiram o que iria entrar, ou ser eliminado, das Escrituras.
Eles escolheram os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João para representar a biografia oficial de Cristo, enquanto as invenções dos docetas, dos ebionistas e de outras seitas foram excluídas, e seus autores declarados hereges. Os textos excluídos do cânone ganharam o nome de “apócrifos” – palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi ocultado”. A maioria dos apócrifos se perdeu – afinal de contas, os escribas da Igreja não estavam interessados em recopiá-los para a posteridade. Mas, com o surgimento da arqueologia, no século 19, pedaços desses textos foram encontrados nas areias do Oriente Médio. É o caso de um polêmico texto encontrado em 1886 no Egito. Ele é assinado por uma certa “Maria” que muitos acreditam ser a Madalena, discípula de Jesus, presente em vários trechos do Novo Testamento. O evangelho atribuído a ela é bem feminista: Madalena é descrita como uma figura tão importante quanto Pedro e os outros apóstolos. Nos primórdios do cristianismo, as mulheres eram aceitas no clero – e eram, inclusive, consideradas capazes de fazer profecias. Foi só no século 3 que o sacerdócio virou monopólio masculino, o que explicaria a censura da apóstola e seu testemunho. Aliás, tudo indica que Madalena não foi prostituta – idéia que teria surgido por um erro na interpretação do livro sagrado. No ano 591, o papa Gregório fez um sermão dizendo que Madalena e outra mulher, também citada nas Escrituras e essa sim ex-pecadora, na verdade seriam a mesma pessoa (em 1967, o Vaticano desfez o equívoco, limpando a reputação de Maria).
Na evolução da Bíblia, foram aparecendo vários trechos machistas – e suspeitos. É o caso de uma passagem atribuída ao apóstolo Paulo: “A mulher aprenda (...) com toda a sujeição. Não permito à mulher que ensine, nem que tenha domínio sobre o homem (...) porque Adão foi formado primeiro, e depois Eva”. É provável que Paulo jamais tenha escrito essas palavras – porque, na época em que ele viveu, o cristianismo não pregava a submissão da mulher. Acredita-se que essa parte tenha sido adicionada por algum escriba por volta do século 2.
Após a conversão do imperador Constantino, o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente Médio para Roma. Só que, para completar a romanização da fé, faltava um passo: traduzir a palavra de Deus para o latim. A missão coube ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de são Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele viajou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico e traduzir o Antigo e o Novo Testamento. Não foi nada fácil: o trabalho durou 17 anos.
Daí saiu a Vulgata, a Bíblia latina, que até hoje é o texto oficial da Igreja Católica. Essa é a Bíblia que todo mundo conhece. “A Vulgata foi o alicerce da Igreja no Ocidente”, explica o padre Luigi. Ela é tão influente, mas tão influente, que até seus erros de tradução se tornaram clássicos. Ao traduzir uma passagem do Êxodo que descreve o semblante do profeta Moisés, são Jerônimo escreveu em latim: cornuta esse facies sua, ou seja, “sua face tinha chifres”. Esse detalhe esquisito foi levado a sério por artistas como Michelangelo – sua famosa escultura representando Moisés, hoje exposta no Vaticano, está ornada com dois belos corninhos. Tudo porque Jerônimo tropeçou na palavra hebraica karan, que pode significar tanto “chifre” quanto “raio de luz”. A tradução correta está na Septuaginta: o profeta tinha o rosto iluminado, e não chifrudo. Apesar de erros como esse, a Vulgata reinou absoluta ao longo da Idade Média – durante séculos, não houve outras traduções.
O único jeito de disseminar o livro sagrado era copiá-lo à mão, tarefa realizada pelos monges copistas. Eles raramente saíam dos mosteiros e passavam a vida copiando e catalogando manuscritos antigos. Só que, às vezes, também se metiam a fazer o papel de autores.
Após a queda do Império Romano, grande parte da literatura da Antiguidade grega e romana se perdeu – foi graças ao trabalho dos monges copistas que livros como a Ilíada e a Odisséia chegaram até nós. Mas alguns deles eram meio malandros: costumavam interpolar textos nas Escrituras Sagradas para agradar a reis e imperadores. No século 15, por exemplo, monges espanhóis trocaram o termo “babilônios” por “infiéis” no texto do Antigo Testamento – um truque para atacar os muçulmanos, que disputavam com os espanhóis a posse da península Ibérica.

Escrituras em série
Tudo isso mudou após a invenção da imprensa, em 1455. Agora ninguém mais dependia dos copistas para multiplicar os exemplares da Bíblia. Por isso, o grande foco de mudanças no texto sagrado passou a ser outro: as traduções.Em 1522, o pastor Martinho Lutero usou a imprensa para divulgar em massa sua tradução da Bíblia, que tinha feito direto do hebraico e do grego para o alemão. Era a primeira vez que o texto sagrado era vertido numa língua moderna – e a nova versão trouxe várias mudanças, que provocavam a Igreja (veja quadro na pág. 65). Logo depois um britânico, William Tyndale, ousou traduzir a Bíblia para o inglês. No Novo Testamento, ele traduziu a palavra ecclesia por “congregação”, em vez de “igreja”, o termo preferido pelas traduções católicas. A mudança nessa palavrinha era um desafio ao poder dos papas: como era protestante, Tyndale tinha suas diferenças com a Igreja. Resultado? Ele foi queimado como herege em 1536. Mas até hoje seu trabalho é referência para as versões inglesas do livro sagrado.
A Bíblia chegou ao nosso idioma em 1753 – quando foi publicada sua primeira tradução completa para o português, feita pelo protestante João Ferreira de Almeida. Hoje, a tradução considerada oficial é a feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em 2001. Ela é considerada mais simples e coloquial que as traduções anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas. Já foi vertida para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais influentes do mundo: todos os anos, são publicadas 11 milhões de cópias do texto integral, e 14 milhões só do Novo Testamento.
Depois de tantos séculos de versões e contra-versões, ainda não há consenso sobre a forma certa de traduzi-la. Alguns buscam traduções mais próximas do sentido e da época original – como as passagens traduzidas do hebraico pelo lingüista David Rosenberg na obra O Livro de J, de 1990. Outros acham que a Bíblia deve ser modernizada para atrair leitores. O lingüista Eugene Nida, que verteu a Bíblia na década de 1960, chegou ao extremo de traduzir a palavra “sestércios”, a antiga moeda romana, por “dólares”. Em 2008, duas versões igualmente ousadas estão agitando as Escrituras: a Green Bible (“Bíblia Verde”, ainda sem versão em português), que destaca 1 000 passagens relacionadas à ecologia – como o momento em que Jó fala sobre os animais –, e a Bible Illuminated (‘Bíblia Iluminada”, em inglês), com design ultramoderno e fotos de celebridades como Nelson Mandela e Angelina Jolie.
A Bíblia se transforma, mas uma coisa não muda: cada pessoa, ou grupo de pessoas, a interpreta de uma maneira diferente – às vezes, com propósitos equivocados. Em pleno século 21, pastores fundamentalistas tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo que a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década de 1950. Líderes como o pastor Jerry Falwell defendem o retorno da escravidão e o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio rabinos extremistas usam trechos da Torá para justificar a ocupação de terras árabes. Por quê? Porque está na Bíblia, dizem os radicais. Não é nada disso. Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um manual de regras literais – e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regada há 3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência.

Top 5 pragas

I. Quando os hebreus eram escravos no Egito, o Senhor enviou 10 pragas contra os opressores do povo escolhido. A primeira delas foi transformar toda a água do país em sangue (Êxodo 7:21).
II. Como o faraó não libertava os hebreus, o Senhor radicalizou: matou, numa só noite, todos os primogênitos do Egito. “E houve grande clamor no país, pois não havia casa onde não houvesse um morto” (Êxodo 12:30).
III. Desgostoso com os pecados de Sodoma e Gomorra, Deus destruiu as duas cidades com uma chuvarada de fogo e enxofre (Gênesis 19:24).
IV. Para punir as deso­bediências do rei Davi, o Senhor enviou uma doença não identificada, que matou 70 mil homens e 200 mil mulheres e crianças (2 Samuel, 24: 1-13).
V. Quando a nação dos filisteus roubou a arca da Aliança, onde estavam guardados os 10 Mandamentos, o Senhor os castigou com um surto de hemorróidas letais. “Os intestinos lhes saíam para fora e apodreciam” (1 Samuel 5:9) .

Os possíveis autores

1200 a.C. - Moisés
Segundo uma lenda judaica, a Torá (obra precursora da Bíblia) teria sido escrita por ele. Mas há controvérsias, pois existe um trecho da Torá que diz: “Moisés morreu e foi sepultado pelo Senhor próximo a Fegor”. Ora, se Moisés é o autor do texto, como ele poderia ter relatado a própria morte?
1000 a.C. - Javista
Viveu na corte do rei Davi, no antigo reino de Israel, e era um aristocrata. Ou, quem sabe, uma aristocrata: para o crítico Harold Bloom, Javista era mulher. Isso porque os personagens femininos da Bíblia (Eva e Sara, por exemplo) são muito mais elaborados que os masculinos.
Século 4 a.C. - Esdras
Líder religioso que reformou o judaísmo e possível editor do Pentateuco (5 primeiros livros da Bíblia). Vários trechos bíblicos editados por ele pregam a violência: “Derrubareis todos os altares dos povos que ides expropriar, queimareis as casas, e mudareis os nomes desses lugares”.
Século 1 - Paulo
Nunca viu Cristo pessoalmente, mas foi o primeiro a escrever sobre ele. Nascido na Turquia, Paulo viajou e fundou igrejas pelo Oriente Médio. Ele escrevia cartas para essas igrejas, contando a incrível aventura de um tal Jesus – que foi crucificado e ressuscitou.
Século 1 - Maria Madalena
Estava entre os discípulos favoritos de Jesus – e, diferentemente do que o Vaticano sustentou durante séculos, nunca foi prostituta. Pelo contrário: tinha influência no cristianismo e é a suposta autora do Apócrifo de Maria, um livro em que fala sobre sua relação pessoal com Jesus e divulga os ensinamentos dele.
Século 1 - João
Escreveu o 4o evangelho do Novo Testamento (João) e o Livro do Apocalipse, o último da Bíblia. Para ele, Jesus não é apenas um messias – é um ser sobrenatural, a própria encarnação de Deus. Essa interpretação mística marca a ruptura definitiva entre judaísmo e fé cristã.
Século 5 - Jerônimo
Nascido no território da atual Hungria, este padre foi enviado a Jerusalém com uma missão importantíssima: traduzir a Bíblia do grego para o latim. Cometeu alguns erros, como dizer que o profeta Moisés tinha chifres (uma confusão com a palavra hebraica karan, que na verdade significa “raio de luz”).
Século 16 - William Tyndale
Possuir trechos da Bíblia em qualquer idioma que não fosse o latim era crime. O professor Tyndale não quis nem saber, traduziu tudo para o inglês, e acabou na fogueira. Mas seu trabalho foi incrivelmente influente: é a base da chamada “Bíblia do Rei James”, até hoje a tradução mais lida nos países de língua inglesa.

Top 5 matanças

I. Um grupo de meninos malcriados zombou da calvície do profeta Eliseu. Pra quê! Na hora, dois ursos famintos saíram de um bosque e comeram as crianças (2 Reis 2:24).
II. Cercado por um exército de filisteus, o herói Sansão apanhou a mandíbula de um jumento morto. Usando o osso como arma, ele massacrou mil inimigos (Juízes, 15:16).
III. O profeta Elias convidou os sacerdotes do deus Baal para uma competição de orações. Era uma armadilha: Elias incitou o povo, que linchou os pagãos (1 Reis 18:40).
VI. Os judeus haviam perdido a fé e começaram a adorar um bezerro de ouro. Moisés ficou furioso e mandou sacerdotes levitas matar 3 mil infiéis (Êxodo 32:19).
V. A nação dos amalequitas disputava o território de Canaã com os judeus. O Senhor ordena que todos os amalequitas sejam chacinados (1 Samuel 15:18).

Top 5 sacanagens

I. Após a destruição de Sodoma, os únicos sobreviventes eram Ló e suas duas filhas. As filhas de Lot embebedaram o pai e tiveram com ele a noite mais incestuosa da Bíblia (Gênesis 19:31).
II. O Cântico dos Cânticos, atribuído ao rei Salomão, é altamente erótico. Um dos trechos: “Teu corpo é como a palmeira, e teus seios, como cachos de uvas” (Cânticos 7:7).
III. Os anjos do Senhor tiveram chamegos ilícitos com mulheres mortais. “Vendo os Filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram-nas como mulheres, tantas quanto desejaram” (Gênesis 6:2).
IV. A Bíblia diz que os antigos egípcios eram muito bem-dotados. Após a fuga para Canaã, a judia Ooliba tem saudades dos tempos em que se prostituía no Egito. Tudo porque “seus amantes (...) ejaculavam como cavalos” (Ezequiel 23:20).
V. O hebreu Onã casou com a viúva de seu irmão, mas não conseguia fazer sexo com ela – preferia o prazer solitário. Do nome dele vem o termo “onanismo”, que significa masturbação (Gênesis 38:9).

As história da história

Como o livro sagrado evoluiu ao longo dos tempos
Tanach - Século 5 a.C.
É a Bíblia judaica, e tem 3 livros: Torá (palavra hebraica que significa “lei”), Nebiim (“profetas”) e Ketuvim (“escritos”). É parecida com a Bíblia atual, pois os católicos copiaram seus escritos. Contém as sementes do monoteísmo e da ética religiosa, mas também pregações de violência. A primeira das bíblias tem trechos ambíguos e misteriosos – algumas passagens dão a entender que Javé não é o único deus do Universo.
Septuaginta - Século 3 a.C.
O Oriente Médio era dominado pelos gregos e pelos macedônios. Muitos judeus viviam em cidades de cultura grega, como Alexandria, e desejavam adaptar sua religião aos novos tempos. Diz a lenda que Ptolomeu, rei do Egito, reuniu um grupo de 72 sábios judeus para traduzir a Tanach – e fizeram tudo em 72 dias. Por isso, o resultado é conhecido como Septuaginta. Inclui textos que não constam da Tanach.
Novo Testamento - Século 1
A língua do Antigo Testamento é o hebraico, mas o Novo Testamento foi escrito num dialeto grego chamado coiné. Contém os relatos sobre vida, milagres, morte e ressurreição de Jesus – os evangelhos. Em alguns trechos, vai deixando evidente a divergência entre cristianismo e judaísmo. É o caso, por exemplo, do Evangelho de João, em que Jesus é descrito como uma encarnação de Deus (coisa na qual os judeus não acreditavam).
Católica - Século 4
Seus autores decidiram incluir 7 livros que os judeus não reconheciam. São os chamados Deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, Macabeus 1 e 2 (mais trechos dos livros Daniel e Ester). A Bíblia católica bate na tecla do monoteísmo: a palavra hebraica Elohim, usada na Tanach para designar a divindade, é o plural de El, um deus cananeu. Mas foi traduzida no singular e virou “Senhor”.
Ortodoxa - Por volta do século 4
É baseada na Septuaginta, mas também inclui livros considerados apócrifos por católicos e protestantes: Esdras 1, Macabeus 3 e 4 e o Salmo 151. A tradução é mais exata (nesta Bíblia, Moisés nunca teve chifres, um erro de tradução introduzido pela Bíblia latina), e os escritos não são levados ao pé da letra: para os ortodoxos, o que conta são as interpretações do texto bíblico, feitas por teólogos ao longo dos séculos.
Protestante - Século 16
Ao traduzir a Bíblia para o alemão, Martinho Lutero excluiu os livros Deuterocanônicos e mudou algumas coisas. Um exemplo é a palavra grega metanoia, que na Bíblia católica significa “fazer penitência” – uma referência à confissão dos pecados, um dos sacramentos católicos. Já Lutero traduziu metanoia como “reviravolta”. Para ele, confessar os pecados era inútil. O importante era transformar a vida pela fé.

Top 5 milagres

I. O maior de todos os milagres divinos foi o primeiro: a Criação do mundo, pelo poder da palavra. “E Deus disse: que haja luz. E houve luz” (Gênesis 1:3).
II. Para dar-lhe uma amostra de seus poderes, o Senhor leva Ezequiel a um campo cheio de esqueletos – e os traz de volta à vida. “O vento do Senhor soprou neles, e viveram” (Ezequiel, 37; 1-28).
III. Graças à benção divina, o herói Sansão tinha a força de muitos homens. Certa vez, foi atacado por um leão. “O espírito do Senhor deu-lhe poder, e Sansão destroçou a fera com as próprias mãos, como se matasse um cabrito” (Juízes 14:6).
IV. Josué liderava uma batalha contra os amalequitas, mas o Sol estava se pondo. Como não queria lutar no escuro, o hebreu pediu ajuda divina – e o Sol ficou no céu (Josué 10:13).
V. Para fugir do Egito, os hebreus precisavam atravessar o mar Vermelho. E não tinham navios. Moisés ergueu seu bastão e as águas do mar se dividiram. Após a passagem dos hebreus, o profeta deixou que as ondas se fechassem sobre os exércitos do faraó (Êxodo 14; 21-30).

Para saber mais

A Bíblia: Uma Biografia
Karen Armstrong, Jorge Zahar Editora, 2007.
Who Wrote the Bible?
Richard Elliott Friedman, HarperOne, 1997.



Odlave Sreklow

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Jesus Cristo nunca Existiu



Homem ateu é assim chamado aquele que não crê em Deus. Etimologicamente, “Theos”, do grego, significa Deus. Anexando-se o prefixo “a”, o qual indica ausência ou negação, teremos ateu, isto é, sem Deus. No mundo moderno onde vivemos, no qual impera a razão, a lógica e o conhecimento científico, não nos é mais possível estabelecer diferença essencial entre ateus ou crentes.

Os que acreditam em um Deus materializável, prosternando-se e orando diante de seus altares, em seus templos, são também verdadeiros ateus. Apenas deste fato não se dão conta. A seguir tentaremos explicar o nosso ponto de vista. O homem primitivo, sentindo-se indefeso diante do mundo hostil que o rodeia e que desconhece, a tudo teme. Apavoram-no os fenômenos da natureza, tais como as tempestades, os trovões, os relâmpagos e tantos outros os quais julga serem a manifestação digna de um Ser Supremo, muito poderoso e desconhecido. Então, na sua impotência para controlar a natureza, e não encontrando explicações razoáveis para os acontecimentos, volta-se o nosso homem para aquele Ser Poderoso que imagina comandar o mundo. Submisso e suplicante, implora-lhe perdão pelas faltas cometidas, simula preces e oferece-lhe sacrifícios. Com isso, supõe aplacar a ira dos deuses e ganhar-lhes sua benevolência para dias vindouros, Está, assim, lançada a semente da religião que no decorrer do tempo irá ganhando novas formas e sofrerá modificações, de acordo com o próprio homem, suas necessidades e aspirações.

Então perguntaremos, diante de que ou de quem ajoelha-se o homem? Diante de Deus? Não. Por incrível que pareça, o homem ajoelha-se, ainda hoje, diante do altar rústico, erguido pelo temor do homem primitivo castigado pelas forças adversas da natureza, e impotente para contê-las. Não é lógico que o homem que evoluiu conseguindo maravilhas, obtendo os meios necessários para definir e mesmo refrear os furores da natureza, paradoxalmente continue praticando os cultos de desagravo, criados pelos amedrontados ancestrais.

Concluímos do que acima foi dito que os religiosos de qualquer espécie são ateus, porquanto, de acordo com a própria etimologia da palavra ateu, continuam sem Deus. Isto é verdadeiro, porquanto, não é possível a ninguém ter algo inexistente, no caso o Ser Poderoso, Deus ou deuses, conforme prefiram. À medida que o homem foi evoluindo, promoveu sua organização social, inclusive a religiosa. E o homem permaneceu contrito, ajoelhado diante de Deus e do sacerdote. Aos poucos, vai a religião tornando-se um ótimo e cômodo meio de vida para a minoria privilegiada composta pelos sacerdotes, verdadeiro comércio com o qual o povo tem sido espoliado através dos tempos.

Surgiram deuses e religiões idealizadas pelos espertos, a fim de satisfazer a todos os gostos e tendências. Até o século IX, os estudiosos do assunto já haviam catalogado nada menos de 60 mil deuses, sob as mais variadas formas, desde a de animal, semi-animal, até atingir o aspecto integral do corpo humano. Criaram deuses como Baco, o deus do vinho, homenageado com tremendas bebedeiras.
Vênus, a deusa do amor. Para reger a cada ato da vida, foram criados deuses especiais; inclusive para cada fenômeno da natureza.

Apesar do fervor com o qual os deuses têm sido incensados através dos tempos, jamais se conseguiu provar que a fé a eles devotada tenha melhorado a sorte do homem e do mundo. Por isso somos levados a crer que todos aqueles que têm adorado aos deuses têm perdido o seu precioso tempo.
O homem, com o poder de sua inteligência e imaginação, vai aos poucos adquirindo e sistematizando os seus conhecimentos, tornando-os cultura e ciência. Gradativamente vai levantando o véu do mistério que lhe obscurecera a razão. A explicação dos fatos fundamentada na ciência liberta-o dos temores.

O conhecimento científico, alijando as trevas da ignorância, leva-nos a compreender que os milhares de deuses dos quais temos tido conhecimento são produtos de mentes férteis e pretensiosas, como a do clero e outros interessados em lucros fáceis. A total ausência de uma intervenção direta de Deus nos destinos do homem e do mundo é prova de que o clero conduz o homem por caminho errado.
Valendo-se da boa fé do povo incauto é que o clero, em todos os tempos, tem desenvolvido sua atividade parasitária, chorando tanto quanto possível a economia humana. Assim, pode desfrutar de boa vida, luxo e palácios, praticamente sem trabalhar, com o dinheiro que o homem religioso passa-lhe às mãos, julgando assim comprar sua entrada no céu.

O sacerdote é sempre categórico em suas afirmações diante do crente, mostrando-se, contudo, reticente e cauteloso em face do conhecimento científico do homem de saber aprimorado. A este falará sobre tudo, mas evitará abordar o que se refere a Deus, religião ou teologia. Tendo ultrapassado a época do medo, a raça humana não se libertou totalmente do sentimento religioso, porquanto, existem os que se valem do nome de Deus e das religiões para viverem ociosamente, desfrutando de boa posição e respeito, sem, contudo, dar aos homens qualquer contribuição que lhes aproveite para sua felicidade e bem estar. Apenas a promessa de uma boa vida futura, após a morte. Todavia, até esta ser-lhe-á
garantida apenas com a condição de suportar, pacientemente, muitos sofrimentos em sua passagem pela terra. Ora, são promessas vãs e mentirosas. Será que o sacerdote daria para alguém o Reino dos Céus, se dele dispusesse? Tudo nos leva a crer que não.

Não acreditamos que as religiões possam desaparecer tão cedo da face da Terra, apesar do aprimoramento, sempre em expansão, do conhecimento científico. As religiões não morrem, modificamse. Desde os primórdios da humanidade, o aparecimento sempre de novos deuses e modalidades de culto justificam tal afirmativa. Em vista de tantas e tais modificações, é que chegamos à era do advento de Cristo e do cristianismo, religião esta abraçada por boa parte da população do mundo atual, em suas variadas ramificações.

E qual o fundamento sobre o qual foi criada a religião cristã? Nada tem de positivo, palpável ou verdadeiro. É apenas uma lenda o nascimento de Jesus, como toda a vida e os atos a ele imputados.
Aqueles que criaram o cristianismo sequer primaram pela originalidade, porquanto, a lenda que envolve a personalidade de Jesus Cristo é apenas copia de tantas outras que relatam o nascimento e tudo quanto se referiu aos deuses criados pelos antigos, tais como Ísis, Osíris, Hórus Átis. Apolo, Mitra, etc.

O homem do nosso século tem, forçosamente, de ser prático. Daí, não poderá fundamentar os atos de sua vida em lendas ou mitos. As lendas possuem, evidentemente, um grande valor, fazem parte do folclore dos povos, influindo na formação de suas culturas. Entretanto, o seu valor cultural não deve ultrapassar o limite lógico e aceitável.


Autor: Autor: La Sagesse
Fonte: Fonte: ateus.net

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Odlave Sreklow