sábado, 30 de outubro de 2010

Palhaçada em Brasília

Nestas eleições (talvez mais do que nas outras), elegemos todo tipo de gente.

Desde personagens tradicionais até pessoas bastante "estranhas" ao meio político.

Independente do resultado do julgamento sobre sua capacidade intelectual para assumir ou não o mandato como deputado federal de São Paulo, o senhor Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido como Tiririca, já teve seu nome registrado na história do Brasil não apenas como humorista, mas também como o deputado federal mais votado do país.

Tiririca alcançou esta façanha obtendo 1.353.820 votos, que somam 6,35%.

Seria uma piada se não fosse um caso real. As especulações são muitas, desde que os eleitores possam realmente ter se simpatizado pelo palhaço até uma suposta "revolta" da sociedade que, já está cansada dos palhaços atuais e resolveu colocar um que sabe do assunto.

O "voto da revolta" era muito utilizado na época do voto no papel (época não muito distante, rsrs).

Eu não me lembro deste episódio, mas um colega de trabalho me falou que em Vila Velha no Espírito Santo em uma determinada eleição, o grande candidato foi o "mosquito da dengue", isso mesmo, muitos foram às urnas e escreveram na cédula de voto "mosquito da dengue".






Olhando a lista dos deputados federais eleitos por São Paulo, vejo outro nome que me chamou a atenção. Ninguém mais, ninguém menos que o doutor em divindades, senhor Marco Feliciano, isto mesmo, pastor evangélico (Assembleiano). Este ficou em 12° colocado com 0,99% dos votos válidos. Com certeza já deve ter feito até analogia quanto ao número 12, que por sua vez é o número das tribos de Israel, é o número dos discípulos de Jesus e por aí vai.

Não sei o que é pior, ter um representante que é "semi-analfabeto" ou um que é doutor em divindades.

O título doutor em divindades é um título Honoris Causa (ou de causa nobre).

Doutor Honoris Causa é o titulo atribuído à personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.

Na verdade, diferentemente de um doutorado em artes, ciências, filosofia ou letras, para receber o título de "doutor em divindades" o cidadão não precisa estudar. Sim, nenhuma tese, nenhum estudo, basta ser um "pastor evangélico" por no mínimo dez anos (http://www.teologia.org.br/honoris.htm).
O pior é que neste vídeo ele diz "terminei meu doutorado em duas semanas" (http://www.youtube.com/watch?v=fkXUm7_aOQM).

A princípio pensei que para ser "doutor em divindades" o cidadão teria que estudar e conhecer toda história religiosa, conhecer todas religiões e suas divindades, conhecer o conceito sócio-cultural das religiões, mas não.

Mas o que o cidadão quer provar com o título de "doutor em divindade" ?
O cidadão quer dizer que se especializou em seres inexistentes, ou seja, divindades?

O cidadão deve dar bom dia a Jesus, tomar café com Krishna, almoçar com Hórus e jantar com Afrodite, sem contar com os esbarrões cotidianos com sátiros, ninfas, anjos e arcanjos.

Será que existe doutor em fadas, doutor em gnomos, doutor em espíritos, doutor em fantasmas, doutor em lobisomens?

Sei que existem diversos cursos voltados à religião e qualquer um pode estudar e se tornar doutor ou mestre em religião, mas, este não é o caso.

O pior de tudo é ter líderes políticos que dizem que falam com divindades.

Basta olhar no youtube ou assistir aos vídeos das pregações do senhor Marco Feliciano que verás que ele afirma veemente (assim como a maioria dos evangélicos) que ouve a voz de Deus.

São frases como "Deus me disse", "Assim diz o Senhor" e tantas outras.

É fato que muitas pessoas que dizem ouvir a voz de Deus na verdade ouviram a voz de sua própria consciência (ou seu inconsciente também).

Comumente idealizam seus próprios objetivos e intenções como advindo das divindades e deuses.

Por exemplo, neste vídeo, um outro pastor vem como "oráculo de Deus" para falar ao deputado eleito (http://www.youtube.com/watch?v=6BQ7rqlTAig) como se Deus estivesse realmente falando com ele. Ao final o pastor fica girando como um peão (isto já virou motivo de zombaria na internet) e o deputado grita "sai da frente satanás" o que poderia também ser "sai da frente mula-sem-cabeça", ambos seres mitológicos e inexistentes.

Neste outro nosso querido deputado diz: "Eu profetizo para ti que a porta que Deus abriu para você, quem quiser passar por ela na tua frente vai morrer. Porque esta porta que Deus abriu é tua. Jesus vai começar a colocar sapato de fogo no seus pés. Eu não estou vendo homens e mulheres, estou vendo brasa de fogo. A caravana que vai sair daqui vai sair para queimar." (http://www.youtube.com/watch?v=ifzt8zrdNaM)

Neste outro, um pastor diz que Deus mandou uma jovem retirar o colete ortopédico que ela estava usando. Ele disse que Deus a estava curando.
Espero que realmente este ato insano não tenha trazido causas graves para a jovem. É um ato inconsequente, isso caso a jovem realmente estivesse com problema na coluna e não fosse mais um teatro. Em seguida ele entrega o colete ao deputado que cai no chão.
Em entrevista recente, o deputado disse que foi empurrado, por isso caiu. Disse que não havia nada de especial no colete e na oração do companheiro dele. Mas, avaliando este vídeo, vemos que o artista feliciano realmente caiu por si só (http://www.youtube.com/watch?v=50Pb7RImPV0), não houve empurrão.






Em um dos vídeos dos links acima o senhor Feliciano diz que leu a Bíblia 18 vezes, leu 700 livros sobre a bíblia e escreveu 8 livros também sobre a bíblia.

Essa é a bagagem necessária para um deputado federal?

Creio que não.

Sendo assim, tanto um quanto o outro estão no mesmo nível.

Resolvi falar sobre estes dois, mas a verdade é que existem muitos outros na mesma situação.

Certamente a República de Platão é utópica.

Vivemos a República da ignorância.

Odlave Sreklow.

sábado, 23 de outubro de 2010

Eu conversei com Deus e briguei com o Diabo




Recentemente peguei uma carona no horário de almoço para ir à biblioteca da faculdade renovar o empréstimo dos livros que estava lendo (dentre eles "As formas elementares da vida religiosa - Émile Durkheim").

A funcionária da biblioteca fez uma observação sobre meu interesse pela leitura.

Em seguida iniciou-se uma diálogo sobre religião, deuses e filosofia.

Enquanto conversávamos se aproximam outros três funcionários que ficaram apenas nos ouvindo.

Até que um deles não se conteve em apenas nos ouvir e iniciou: "Por isso que eu digo que não se deve ler sobre religião".

Perguntei a ele se ele era à favor da "ignorância religiosa", ou seja, se sua filosofia era "quanto menos eu souber, melhor para mim será.".

Ele continuou: "Eu creio em Deus não é por causa de religião, não é por causa de Bíblia, não é por causa de pastores, nem de Moisés."

Informei a ele que cristão que não lê a Bíblia não é cristão, muçulmano que não lê o Alcorão não é muçulmano, mas são apenas babacas e marionetes religiosas. Eu disse que o religioso obrigatoriamente deve conhecer a sua própria religião.

Ele continuou: "Eu creio em Deus porque Ele falou comigo, porque eu toquei nele" (E tocou no ombro do outro rapaz que estava nos ouvindo).

Eu perguntei: "Então Deus esteve pessoalmente em sua casa, conversou contigo, tomou um café e você apertou a mão dele?"

Ele responde: "Você não é obrigado a acreditar".

Eu disse: "Eu quero acreditar, então me convença.".

Continuei: "Sabe o que é, ontem eu tomei duas taças de sangue com o Drácula lá em casa e semana passada fiz um churrasco na presença do lobisomem, nós comemos picanha juntos."

Ele prontamente: "Você pode dizer o que quiser, porém, acredita quem quiser".

Eu: "Idem".

Ele continuou: "Cada um tem a sua experiência com Deus, eu sei do que estou dizendo. Eu estive em um lugar certa vez que o diabo me pegou pelo pescoço e tinham várias pessoas caindo.".

Eu disse a ele que ele deveria ter ido à um culto evangélico pentecostal ou à uma reunião da umbanda (é quase a mesma coisa), porém, se alguém pegou no pescoço dele esse alguém foi um ser humano, nada além disto. Aproveitei para perguntar a ele se as pessoas que estavam se atirando no chão levantavam diferentes ou se todos os dias elas passavam pelo mesmo ritual de "diabo pega no pescoço e eu caio no chão"?

Aí vem a pergunta básica da senhora que estava conversando comigo antes deles chegarem: "Mas você acredita em Deus?".

Eu disse para ela: "Vou te explicar em qual Deus eu não acredito. Você tem filhos?".

Ela respondeu: "Tenho três".

Eu prossegui: "Suponhamos que a senhora faça um mousse de maracujá de sobremesa do almoço de domingo, aí diz para seus filhos comerem o mousse. Haverá uma grande chance de eles irem jogar bola, brincar e esquecerem o mousse. Mas, se a senhora proibir em vez de liberar e disser para não comerem senão tomarão uma surra, esta informação ficará na mente deles perturbando-os por muito tempo, apenas os deixando em paz após terem comido e cometido um desrespeito ao mandamento. Existem estudos que comprovam que nosso cérebro trabalha mais em cima de uma negação do que uma liberação. Ele fica nos lembrando de 10 em 10 minutos o que não podemos fazer. Digamos que seu filho mais novo comeu. Você descobriu. Você iria à um posto de combustível, compraria gasolina e, ao chegar em casa espalharia pelo seu quarto, jogaria um isqueiro aceso dentro do quarto e jogaria o filho desobediente dentro do quarto em chamas e em seguida trancaria a porta atrás dele?"

Ela disse: "Não".

Eu finalizei: "Neste Deus que eu não acredito"

O rapaz então disse que não acreditava em inferno. Eu exclamei surpreso "Mas céu e inferno são conceitos do cristianismo, então você não acredita em um dos conceitos básicos da sua religião?".

Ele disse que acreditava que as almas "desobedientes" seriam aniquiladas e não iriam ficar sofrendo eternamente (no caso eu) e que os salvos iriam para o céu (no caso ele).

Eu disse que preferia ser aniquilado à ficar diante de um ser super-poderoso ajoelhado eternamente e cantando musiquinhas em ruas de ouro.

E finalizei: "Se precisamos de nossas cordas vocais para cantar, dos nossos nervos e neurônios para sentirmos prazer ou dor, depois que nossos corpos apodrecerem não existirá cantoria eterna ou prazer eterno. Bom, tenho que ir almoçar senão meu corpo, alma e espírito irão ser aniquiladas".


Odlave Sreklow.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESTRANHA FORMA DE COMPORTAMENTO ANIMAL



Já que falamos em religião, talvez valha à pena observar mais de perto essa estranha forma de comportamento animal, antes de tratarmos dos restantes aspectos das atividades agressivas da nossa espécie. O assunto não é fácil, mas como zoólogos, devemos fazer o possível para observar o que se passa na verdade, em vez de nos determos ouvindo o que deveria ter acontecido. Se o fizermos, teremos forçosamente de concluir que, em sentido comportamental, as atividades religiosas consistem na reunião de grandes grupos de pessoas que executam longas e repetidas exibições de submissão, no intuito de apaziguar o indivíduo dominante.

Esse indivíduo dominador assume muitas formas nos diferentes tipos de cultura, mas conserva sempre um fator comum: um poder enorme. Às vezes, assume a forma de um animal de outra espécie, ou uma versão mais ou menos idealizada. Outras vezes, é retratado como um membro sensato e idoso da nossa própria espécie. Pode ainda tomar um caráter mais abstrato e receber o nome de “o Estado”, ou outros equivalentes.

As respostas submissas que lhe são oferecidas podem consistir em fechar os olhos, baixar a cabeça, pôr as mãos em atitude de súplica, ajoelhar, beijar o solo, ou mesmo chegar à prostração extrema, frequentemente acompanhada de vocalizações de lamento ou de cânticos. Se esses atos de submissão são bem sucedidos, o indivíduo dominante acalma-se. Como mantém enormes poderes, as cerimônias de apaziguamento têm de ser praticadas a intervalos regulares e frequentes, para impedir que o dominador volte a sentir-se irado. Em regra, mas não sempre, o indivíduo dominante é chamado um “deus”.

Como nenhum desses deuses existe numa forma corpórea, é o caso de perguntar por que foram inventados. Para encontrar a resposta, temos de regressar às nossas origens ancestrais. Antes de nos termos tornado caçadores cooperantes, devemos ter vivido em grupos sociais semelhantes aos que ainda hoje se veem em outras espécies de macacos e símios. Nos casos típicos, cada grupo é dominado por um só macho. Este é ao mesmo tempo patrão e senhor todo-poderoso e cada membro do grupo tem de apaziguá-lo ou sofrer as consequências. O chefe é também o membro mais ativo na proteção do grupo contra os perigos exteriores e no ajuste de contendas entre os restantes membros. Durante toda a vida, cada membro do grupo gira à volta do animal dominante. O seu papel de detentor de poder absoluto dá-lhe uma posição semelhante à de um deus.

Voltando agora para os nossos antepassados mais próximos, torna-se evidente que, com o desenvolvimento do espírito cooperativo, tão fundamental para a caça em grupo, a aplicação da autoridade do indivíduo dominante teve de ser muito limitada, para conservar a lealdade ativa (e não passiva) dos restantes membros.

Era preciso que estes últimos quisessem ajudar o chefe, em vez de se limitarem a temê-lo. Para isso, o chefe tinha de ser cada vez mais como “um dos outros”. O antigo macaco tirano teve de desaparecer, para ser substituído por um chefe macaco pelado, mais tolerante e cooperante. Tratava-se dum passo essencial para a organização de um novo tipo de “entreajuda”, mas criou um problema. O domínio total do membro nº. 1 do grupo foi substituído por um domínio qualificado, de forma que aquele não podia impor uma lealdade cega.

Embora essa mudança tenha sido vital para o nosso novo sistema social, deixou, no entanto, uma lacuna. Devido aos nossos antecedentes, conservamos a necessidade de uma figura todo-poderosa que mantivesse o grupo sob um certo controle, e a vaga foi preenchida com a invenção de um deus. Dessa forma, a influência da figura-deus inventada podia funcionar como uma força complementar da influência progressivamente decrescente do chefe do grupo. À primeira vista, surpreende como a religião tem tido tanto sucesso, mas o seu enorme poder nos dá apenas a medida da força da nossa tendência biológica fundamental, herdada diretamente dos macacos e símios nossos antepassados, para nos submetermos a um membro do grupo dominador e todo-poderoso. Por esse motivo, a religião tem-se revelado extremamente valiosa como mecanismo de coesão social, e é mesmo possível que a nossa espécie não tivesse progredido tanto sem ela, dado o conjunto especial das circunstâncias que acompanharam a nossa evolução. A religião conduziu a diversos subprodutos bizarros, tal como a crença numa “outra vida”, em que encontraríamos, finalmente, as figuras-deuses. Pelas razões já mencionadas, os deuses eram inevitavelmente impedidos de nos aparecerem na vida atual, mas essa falta podia ser corrigida depois da vida. Para facilitar as coisas, desenvolveram-se as práticas mais estranhas em relação ao destino dos nossos corpos quando morremos. Se vamos finalmente encontrar os nossos senhores dominantes e todo-poderosos, devemos ir bem preparados para o acontecimento, o que justifica todos os requintes das cerimônias fúnebres. A religião também originou muito sofrimento e miséria desnecessários, sempre que se formalizou exageradamente a sua aplicação e sempre que os “assistentes” profissionais das figuras-deuses não resistiram à tentação de lhes pedir emprestado um bocadinho do poder divino, para usar em proveito próprio.

Contudo, apesar de a história da religião ser muito confusa, trata-se de um aspecto da nossa vida social sem o qual não podemos passar. Sempre que se torna inaceitável, é rejeitada, de maneira calma ou violenta, mas surge imediatamente sob uma nova forma, talvez cuidadosamente mascarada, mas contendo todos os antigos elementos básicos. Muito simplesmente, precisamos “acreditar em alguma coisa”. Só nos mantemos unidos e controlados se temos uma crença comum. Nesse sentido, poderia afirmar-se que qualquer crença serve, desde que seja suficientemente poderosa; mas isso não é exatamente verdadeiro. A crença tem de ser impressionante e tem de ser visivelmente impressionante. A nossa natureza comum exige a execução e a participação em rituais de grupo requintados. Se se eliminam a “pompa e a circunstância”, deixa-se uma terrível lacuna cultural e a doutrinação não atingirá o profundo nível emocional que lhe é indispensável. Acontece ainda que certos tipos de crença são mais prejudiciais e estupidificantes do que outros, podendo mesmo desviar uma comunidade para tipos de comportamento rígidos que impeçam o respectivo desenvolvimento qualitativo. Como espécie, somos um animal predominantemente inteligente e explorador, e todas as crenças baseadas nesse fato são-nos extremamente benéficas. A crença na validade da aquisição de conhecimentos e da compreensão científica do mundo em que vivemos, da criação e apreciação dos fenômenos estéticos em todas as suas formas e do alargamento e aprofundamento do campo das nossas experiências da vida cotidiana vai se tornando rapidamente a “religião” do nosso tempo. A experimentação e a compreensão são as nossas figuras-deuses bastante abstratas, cuja ira será desencadeada pela ignorância e pela estupidez. As nossas escolas e universidades são centros de treino religioso e as nossas bibliotecas, museus, galerias de arte, teatros, salas de concerto e estádios esportivos são os locais de culto comum. Em casa praticamos o culto com os nossos livros, jornais, revistas, rádios e televisões. De certa maneira, continuamos a acreditar na pós-vida, visto que uma parte da recompensa obtida com os nossos trabalhos criadores é exatamente o sentimento de que continuaremos, através deles, a “viver” depois de mortos.

Como todas as religiões, essa também tem os seus perigos, mas se, como parece, precisamos ter uma religião, a nossa parece mais adequada às qualidades biológicas particulares à nossa espécie. A adoção dessa religião por uma maioria crescente da população do mundo pode ser uma compensadora e tranquilizadora fonte de otimismo que se opõe ao pessimismo expresso anteriormente, a propósito do nosso futuro imediato e da sobrevivência da espécie.

Autor: Desmond Morris
Fonte: O Macaco Nu. Ed. Record, pp. 140-3

    segunda-feira, 18 de outubro de 2010

    UMA ENCRUZILHADA DE HUMANIDADES



    Posted: 16 Oct 2010 08:56 PM PDT
    Desconstruir concepções infundadas e preconceituosas é talvez a aventura mais extraordinária e comovente que vivo na Europa. Uma a uma, diversas idéias tortas que trouxe comigo do Brasil são sistematicamente moídas.
    [...]
    Ah, quão maravilhoso é o tempo em que meu coração fica aberto à humanidade alheia, em que vivo o tempo de que fala Drummond, no poema “Mãos Dadas”:
    O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
    A vida presente
    Quantas experiências e pessoas lindas eu tenho visto nesse tempo presente…
    O judeu suíço que, terminado seu estágio no hospital em que trabalho, me deu um ótimo armário que ficava em sua casa… E ainda me ajudou a trazê-lo (de metrô) ao meu apartamento, que fica no sexto andar de um prédio sem elevador. Não recebeu nada em troca: foi movido somente pela amizade.
    A moça tcheca que, sabendo que eu visitaria Praga durante alguns dias, me dá as chaves de seu apartamento para que eu dele usufruísse. A explicação para tão nobre gesto é infinitamente bela na sua simplicidade: ela o fez apenas por me ter como amigo. Nada mais do que isso.
    A jovem parisiense, sempre atolada de atividades, mas sempre generosa, que encontrou um tempo precioso para reler minha monografia de fim de curso e corrigir meu francês espaguetônico.
    A médica italiana que deu três meses de sua juventude para cuidar de crianças pobres no sertão pernambucano.
    O filósofo ateu que, há mais de dois anos, ao me alugar o studio, vê minhas evidentes dificuldades no idioma e vai paternalmente comigo até o banco, me ajudar a abrir uma conta.
    A norte-americana estudante de arte, elegante e culta, que me brindou com a dádiva de uma amizade sincera.
    O casal chileno que não me deixou sozinho no meu primeiro Natal no hemisfério norte, convidando-me para cear com eles.
    A colega muçulmana que, tendo ganhado uns convites de cortesia, propõe-me a assistir a um concerto de música clássica.
    O paciente egípcio que beija a mão da fonoaudióloga que o atendeu, em sinal de gratidão.
    O rapaz francês que sempre se lembra deste perna-de-pau que vos escreve na hora de organizar a pelada do fim de semana.
    Ah, Houellebecq, se você – e todos nós – abríssemos os nossos olhos e nos dispuséssemos a ver!
    Entenderíamos que o mundo é uma maravilhosa encruzilhada de humanidades, repleta de um caleidoscópio de pessoalidades lindas e incoerentes, sujas e mágicas.
    Perceberíamos brasileiros truculentos, mas contemplaríamos entre eles muitos brazucas gentis e cultos; enxergaríamos franceses doces em meio a outros ranzinzas.
    Compreenderíamos que a nacionalidade, a etnia ou a religião a que pertencemos não são as raízes de nossas virtudes e defeitos; na verdade, nada disso nos faz melhores.
    Vislumbraríamos que não há brasileiros, nem franceses, nem negros, nem árabes, nem judeus, nem católicos, nem protestantes, nem homossexuais, nem heterossexuais. “Existe é homem humano”, lembra Riobaldo. E existem essas minhas lágrimas que, ante a contemplação do homem, escorrem neste meu rosto crispado de humanidades.
    Leonardo de Souza, falando da Terceira margem do Sena.
    Minas ainda existe.





    segunda-feira, 11 de outubro de 2010

    SERÁ QUE "KAKAIU" A FICHA?

    Kaká pode deixar igreja Renascer, diz jornal


    O jogador estaria descontente com desabamentos de templos



    Kaká está pensando em deixar a igreja Renascer em Cristo, segundo a coluna "Zapping" do jornal "Agora". De acordo com a publicação, o jogador estaria descontente com a administração da igreja porque, há dois meses, uma parte do teto da sede da Renascer na Mooca (zona leste de São Paulo) teria caído sem deixar feridos. Kaká teria consultado um perito e constatado a negligência.


    Em janeiro do ano passado, o teto de um templo no Cambuci (zona sul da capital paulista) também desabou, deixando nove mortos e 106 feridos.

    A assessoria da Renascer negou o novo desabamento ao jornal e disse que o templo da Mooca passa apenas por reformas. A assessoria de Kaká afirmou à publicação que  não tem autorização para tratar dos assuntos religiosos do jogador.

    Em julho do ano passado, Kaká foi nomeado presbítero da igreja, em um culto realizado no último dia 19 de julho na Flórida, nos EUA. A mulher dele, Caroline Celico, já é pastora.




    Será que kakaiu a ficha? As escamas kakaíram de seus olhos?

    Odlave Sreklow.

    quarta-feira, 6 de outubro de 2010

    O Inferno é fogo - Lobão





    O inferno não depende da presença do diabo

    E lá ninguém tem medo do poder de Satanás

    O inferno não recebe nem turistas nem culpados

    E lá o impossível é como a fuga em Alcatraz

    O inferno é fogo!

    Fogo!

    O inferno não é uma fantasia dos demônios

    Nem está numa guerra que acabou de começar

    O inferno não faz parte das mentiras das igrejas

    Nem é opcional pra quem no céu não pode entrar

    O inferno é fogo!

    Fogo!

    Pura imaginação

    Ali ninguém entra

    Pra lá ninguém vai

    Além daquela porta

    Tudo que entra não sai

    O fogo nunca apaga

    E sempre há o que queimar

    O inferno não existe

    Para quem não é de lá





    Música: O Inferno é fogo.
    Lobão.
    Vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=Z4Vk_lgicas


    Imagem: http://download.ultradownloads.uol.com.br/wallpaper/118018_Papel-de-Parede-Fogo-do-inferno_1920x1200.jpg


    Odlave Sreklow.

    Esta noite tive um sonho




    Esta noite tive um sonho (normal não é? rsrs).

    Neste sonho Deus chegava até mim pessoalmente, sim, Jeová, o Deus judaico/cristão vinha cercado de anjos e cercado de luzes, diversos holofotes apontados para o mesmo.

    Vinha caminhando lentamente em minha direção.

    Lágrimas rolavam de minha face, tamanha alegria com aquele visitante inusitado.

    Fiquei sem palavras, me joguei ao chão e aguardei a primeira fala.

    Era a coisa mais linda. Nunca tinha visto nada similar.

    Assim disse o Senhor: "Filho, meu objetivo aqui é dizer que você deve votar na Dilma e deve passar esta informação à toda nação. Todos devem votar na Dilma pois é a pessoa mais indicada como governante deste país."

    Eu fiquei surpreso com tal declaração, não acreditei, era algo mágico.

    Perguntei: "Mas, nem todos me ouvirão, o Brasil não é totalmente judaico-cristão. Existem diversas religiões no Brasil".

    De repente chega Ogum e fala: "Fale para todos pais-de-santo que eu disse para votarem na Dilma".

    E eu: "Mas...".

    Enquanto tentava falar veio Alá dizendo "Fale aos muçulmanos que moram em seu país para agirem como Jeová falou".

    E por sua vez apareceram Zeus e Khrisna para afirmarem a mesma coisa.


    Foi aí que me levantei, os encarei com seriedade e disse:
    "Há, há, eu vou é votar no SERRA, porque eu sei que vocês não existem!!!!"


    Huahuahauhaua.


    Me disseram para votar consciente, caramba, alguém consegue votar inconsciente?
    Tipo, o cara toma uma cacetada nas idéias e, desacordado consegue votar?
    Tente e me diga depois como foi.

    Odlave Sreklow. 

    Cristãos adiando as profecias?




    Os cristãos afirmam que a vinda de seu messias (Jesus Cristo) será precedida de perseguições aos mesmos.

    Pelo menos seu livro sagrado assim diz:

    Mateus 24:9 - Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.


    João 16:2 - Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.

    O que acho engraçado é que, por mais distante que esteja a possibilidade do surgir uma perseguição, lá estão eles, tentando de tudo para evitá-la.

    Vejo isto nesta reportagem, estão morrendo de medo da Dilma ser eleita e tirar a liberdade religiosa deles.

    Na verdade, cada um acredita que surgirão perseguições, porém, "que seja depois que eu morrer", devem pensar.

    Segue reportagem:




    Ernesto Batista, da Agência Estado

    VITÓRIA - O Fórum Político Evangélico do Espírito Santo e a Associação dos Pastores Evangélicos da Grande Vitória (APEGV), anunciaram que vão fazer campanha contra a candidata petista, Dilma Roussef, no Espírito Santo. Hoje, estima-se que um terço da população capixaba seja evangélica, o que significa cerca de 1,2 milhão de pessoas*.

    Segundo o pastor Enock de Castro, presidente da APEGV, a posição foi tomada depois de uma consulta às diversas igrejas associadas às duas entidades. "Entre 80% e 90% dos evangélicos tendem a votar em José Serra. O risco é grande de vermos alguns princípios religiosos serem afetados. Há uma posição da Dilma em defesa do aborto, da união civil entre pessoas do mesmo sexo e proibição de proferir religião em órgãos públicos, que são coisas que não podemos aceitar"**, disse ao justificar a posição.


    Já o presidente do Fórum Político Evangélico do Espírito Santo, Lauro Cruz, afirmou que a postura tucana preocupa menos. "O posicionamento histórico de Dilma gera apreensão. Ela é a favor do aborto, embora tenha negado isso. A postura de Serra preocupa menos do que a de Dilma e dos males vamos escolher o menor", frisou.
    Outro ponto apontado pelas lideranças evangélicas capixabas contra a petista foram as alianças políticas firmadas pelo PT para viabilizar a candidatura da ex-ministra. "Ao lado dela estão José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Dirceu. Não são políticos confiáveis", comentou Cruz.
    No primeiro turno as duas entidades evangélicas apoiaram a candidata do PV, Marina da Silva, e chegaram mesmo a subir no palanque dela quando esteve em Vitória, no final de setembro. "Esperamos um posição neutra da Marina", afirmou Castro.
    Outra entidade evangélica capixaba, a Convenção das Assembleias de Deus, foi ainda mais longe e assegurou apoio ao tucano. "Quando aceitamos um membro avaliamos sua conduta. Alguém para presidir uma família tão grande como a brasileira tem que ter uma raiz, que é a família. Na campanha, José Serra se apresentou junto com a família. É assim que tem que ser e vamos orientar os fiéis nesse sentido", disse Osmar de Moura, presidente da Convenção.
    Católicos. Já a Igreja Católica, por meio da Arquidiocese de Vitória, lançou um documento oficial assinado pelo Arcebispo Luiz Mancilla Vilela, condenando quem apoia questões como o aborto, a violação à liberdade de expressão e religiosa.
    "Não vote naqueles que defendem um falso conceito de direitos humanos, por exemplo, colocando como se fosse direito: a violação da liberdade de expressão, o direito de matar o ser humano no seio materno, o direito de adoção de crianças quando faltam as qualidades de mãe ou de pai, o direito de violar a liberdade religiosa impedindo que cada religião use os seus símbolos sagrados. Estes não merecem o seu voto de católico.", escreveu o Arcebispo.
    No domingo da eleição, alguns padres católicos chegaram mesmo a pregar contra o voto em Dilma Roussef durante a homilia das missas matinais. Um dos exemplos foi a Igreja de Santa Rita, localizado na Praia do Canto, um bairro nobre da capital capixaba.
    No Espírito Santo, houve uma vitória apertada da candidata petista: Dilma conquistou 37,25% dos votos válidos, o que corresponde a 717.417 votos; Serra obteve 35,44%, o que equivale a 685.590 votos, e Marina Silva (PV), recebeu 26,26% dos votos capixabas, ou seja, 505.734 votos.



    * Recentemente haviam dito 1,6 milhão de pessoas, alguém está mentindo, veja em http://cienciareligiaoemito.blogspot.com/2010/09/vitoria-dos-evangelicos.html.

    ** Como assim não podemos aceitar? Estão usando o TCR com Deus? (TCR = tirando o c.ú. da reta)


    Eu votei no Serra no primeiro turno e vou votar novamente no segundo turno, mas não é por "medinha" não. Para mim estes medos apenas representam que vivemos em uma sociedade onde reina a ignorância.
    Eu não vou votar na Dilma porque acho que ela é só um fantoche.
    Não votei na Marina porque para mim ela não tem capacidade de gerir uma nação, de repente ela conseguiria ser governadora de algum estado, mas, estar à frente do país, não.
    Vou votar no Serra porque ele é um cabra inteligente, se ele for ferrar com o Brasil, irá ferrar consciente, pelo menos de economia ele entende, rsrs.

    Outra coisa, eu nunca votei no Lula e também nunca acreditei no polvo alemão.


    Abraços,

    Odlave Sreklow.


    terça-feira, 5 de outubro de 2010

    Igreja evangélica atingida por bombas em Vitória

    Em direção ao templo, localizado no bairro de Jardim da Penha, também foram lançadas pedras

    A Gazeta

    Deborah Hemerly
    dhemerly@redegazeta.com.br

    Duas bombas foram lançadas sobre o telhado da Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV), em Jardim da Penha, Vitória, enquanto era realizado o culto da manhã de ontem. Cerca de mil pessoas estavam no local, e duas adolescentes foram atingidas pelos estilhaços, mas não ficaram feridas.

    Outra bomba foi jogada durante o culto das 17 horas, mas não atingiu o telhado. O artefato foi lançado na lateral do templo. Um dos pastores da igreja, Edmilson Antunes, contou que pedras também foram jogadas.

    O templo evangélico fica localizado na Rua Saturnino Rangel Mauro, conhecida como rua do canal.

    Louvor

    Segundo um membro da congregação, que preferiu não se identificar, a explosão aconteceu por volta das 11 horas, durante o louvor (momento dos cânticos religiosos).

    Testemunhas disseram que o barulho provocado pelas bombas foi grande, e gerou medo e pânico entre os fiéis que participavam do celebração, iniciada 30 minutos antes. Apesar de algumas pessoas terem ido embora, o louvor não chegou a ser cancelado.

    A Polícia Militar foi acionada, mas nenhum suspeito foi detido. A perícia da Polícia Civil esteve na igreja, e recolheu pedaços do telhado, que é feito de alumínio.

    Apesar de ninguém ter sido detido, membros da igreja acreditam que a ação possa ter sido praticada por alguém da vizinhança.

    "Intolerância religiosa é a causa", diz pastor


    Para o pastor Edmilson Antunes, o que aconteceu ontem no templo da Igreja Evangélica Batista, de Jardim da Penha, na Capital, foi causado por intolerância religiosa. Segundo ele, o prédio, que ocupa um grande terreno margeando o Canal de Camburi, está passando por uma reforma com prazo de término previsto para 20 dias. Por causa disso, o templo está sem isolamento acústico. "Nada justifica o que aconteceu aqui, que para mim é fruto de intolerância religiosa. Quem fez isso atentou contra pessoas de bem, que estavam reunidas em louvor, em oração. Sempre agimos de forma pacífica com a vizinhança, por isso estamos muito assustados. Essa atitude poderia ter ferido alguém", disse o pastor.


    sábado, 2 de outubro de 2010

    O DIREITO AO DESEMPREGO CRIADOR



    A partir daí tento mostrar à maioria que a diferença é que nossas casas são centros de consumo, enquanto as de nossas avós e bisavós eram centros de produção. Comida, roupas, energia, insumos, decoração, presentes e objetos de uso eram produzidos nas casas. Quase tudo que a família precisava estava ao alcance das mãos – de habilidosas mãos – que não só produziam, mas também consertavam, mantinham e adaptavam a novos usos quando algo se tornava definitivamente irrecuperável.

    [...]

    Veja bem: tudo que entra em casa gera embalagem e sai na forma de poluição. Nada fica, nada é aproveitado, tudo é jogado fora, como se “fora” existisse. Para tantos que falam de jogar algo fora, deve existir uma mágica no universo, uma vez que “fora” significaria uma espécie de buraco negro onde tudo sumiria, Emprego polui.quando de fato o que ocorre é que nosso “fora” significa que algo que não queremos deva ser lançado na cabeça de outra pessoa, de outro sistema ou de outra vizinhança. Transformamos o ciclo da vida em cadeia de geração de lixo. E nos prendemos nessas correntes intermináveis que acabam por nos envenenar corpos e mentes.

    Para termos acesso a essa cadeia, buscamos dinheiro, e para obtê-lo nos submetemos a mais emprego. Nos coisificamos – reificamos segundo Marx – viramos peça de engrenagem e para manejar a situação buscamos ter mais e melhores empregos e com isso criamos muita poluição. Além de transformar a cadeia em algemas para a vida toda.

    Para empregarmo-nos temos dois carros por família, ou usamos muito transporte de massa. Comemos comida pronta para ganhar tempo, inflamos as praças de alimentação de cada Shopping Center, onde produz-se em média dois contêineres por dia de restos de alimento que irão apodrecer em um aterro sanitário. A cada refeição geramos saquinhos plásticos, colheres plásticas, copos plásticos, facas plásticas e muito papel, energia e barulho que acompanham cada empregado, ou executivo, enquanto usufrui de sua ração diária. Nossos filhos vão a escolas e geram mais engarrafamento e stress, mais transportes, mais lanchinhos, embalagens e mais embalagens. Como a comida deve ser fácil e rápida, snacks entram no lugar de frutas ou pães, e com isso mais embalagens. Máquinas e mais máquinas, roupas compradas em lojas, e tudo que nos auxilia a consumir mais, ter melhor aparência e adequarmos nossa vida ao emprego, polui e acelera o sistema. E como pagamento por nosso esforço, ganhamos dinheiro, para comprar mais, gastar mais e poluir mais.

    Emprego polui. E só nos empregamos por que não sabemos fazer outra coisa a não ser gerar dinheiro, para comprar mais e fazer menos. E no meio disso, para obtermos a impressão de descanso, nos entretemos diante de alguma bobagem, para que o consumo nos tenha entre tempos. Nos divertimos, para que nossa mente divirja daquilo que é importante. Saímos em grupos, para não sermos importunados pela família. Ligamos a TV para desligarmos a mente daquilo que nos oprime.

    Uma boa medida para combater a extrema poluição que assola nosso planeta seria a busca do direito ao desemprego criador.