domingo, 9 de maio de 2010

IMPÉRIO DO MEDO



No tempo em que eram construídas as primeiras catedrais góticas, nas regiões montanhosas da antiga Gália, aconteceu um episódio horrível que marcou a vida e crendice dos camponeses por várias gerações, pois, morava nas florestas um homem tido como bruxo, que de tempos em tempos descia para as praças da cidade para despregar tudo os que os monges ensinavam sob orientação do seu bom e velho bispo.
Diziam eles que não convinha à alma dos santos desfrutarem dos prazeres desta vida, mas antes usar a parte destinada de suas rendas às coisas supérfluas para a manutenção do império de Deus nesta terra.

Mas o bruxo, e de fato era bruxo mesmo, pois conversava com as plantas e animais e se automedicava com as ervas milagrosas e exóticas da Terra, não suportava nem ver ser privado do pobre o seu direito aos pequenos deleites e prazeres desta sua única vida na terra.

Isto deixava o bispo numa situação desconfortável, pois, pregando o amor cristão não poderia eliminar aquele que vinha perturbando a seara do Senhor. E assim teve que suportar aquilo esperando ansiosamente descer a vingança divina.

Mas não tinha jeito, o homem que fora acostumado a enfrentar as feras nas florestas para sobreviver, não temia nem um pouco o olhar raivoso dos monges que ele contradizia nas suas "aparições esporádicas" entre o povo.

Mas aconteceu que um dia, estando na floresta machucado e exausto, pelas sucessivas lutas arriscadas que travava para sobreviver entre os bichos e a fúria da natureza, foi surpreendido por uma ursa inconsolada que o despedaçou.

Aquilo causou um temor e terror em cadeia entre o povo sem precedentes, pois as suas partes foram encontradas em vários lugares daquela região. Estava feito, a superstição prevaleceria sobre a razão, e ninguém mais em muito tempo ousaria se levantar contra a santa madre igreja.

E assim depois de algum tempo o velho octogenário, cercado de médicos e soldados, e sempre alimentado pelas melhores e mais saudáveis comidas, morreu dormindo, gordo e feliz abraçado num travesseiro de plumas de aves raras na suíte máster de seu castelo.
 

Gresder Sil



Inspirado na morte trágica do Pai de meu amigo nordestino e poeta assembleiano: Levi Bronzeado, a qual foi tida pelos irmãos como castigo de Deus pelas suas “heresias”.

E como eu não sou bobo e não perco vigem serve para mim também como uma espécie de “epitáfio” ou “justificação” (explicação psico-sociológica) caso minha morte seja prematura ou ignominiosa, já que “decidi” viver em Todos os sentidos uma vida de alto risco, não buscando mais a imunidade “divina” privilegiada. Que está supostamente reservada somente para os santos bem-aventurados, e da qual não desfruta o resto da humanidade a que pertenço e me solidarizo até a morte como criatura do mesmo e Único Deus indomesticável.

Detalhe: o bispo não é uma indireta a alguma pessoa real, mas apenas um arquétipo de pessoas religiosas que naturalmente vão morrer velhas, seguras e honradas por seguirem as boas crenças que professam e não viverem na intensidade, tensão e periculosidade de quem anda na contramão.




Fonte: Cristianismo a-religioso http://cristianismoa-religioso.blogspot.com/2010/05/imperio-do-medo.html


Odlave Sreklow.

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