"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?" In memoriam Douglas Adams (1952-2001)
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Garoto de programa, programa de garoto
Quase todos os dias acordo ao lado de uma pessoa diferente.
Me sinto sem graça apesar de ter pago para estar ali.
O pior é que na maioria das vezes são pessoas desconhecidas.
São poucos os casos em que os personagens se repetem.
Algumas vezes são mulheres, outras vezes homens.
Quase não falamos nada um com o outro.
O lugar também nem sempre é o mesmo.
Os funcionários que nos recebem na maioria das vezes são gentis.
Às vezes me sinto à vontade, outras vezes, constrangido.
Também me incomoda o frio do ar condicionado.
Quando não, o calor de sua ausência.
Às vezes só percebo onde estou quando abro os olhos.
Despedidas quase nunca acontecem, na maioria das vezes pego minhas coisas e saio sem olhar para trás.
Levanto, dou sinal, espero a porta abrir e vou embora.
A vida continua.
Só não é assim quando vou trabalhar de carro.
Odlave Sreklow.
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Genial, Odlave. Uma bela crônica de um fato tão recorrente para a imensa maioria das pessoas, mas que dificilmente é tão bem notado e anotado como tu fizeste aqui. Parabéns.
ResponderExcluirGrande Isa,
ResponderExcluirMinha esposa falou que alguns iriam querer bater em mim ao lerem o fim da crônica, rsrs.
Eu ainda acredito que alguns "crentes" vão ler apenas o primeiro parágrafo e vão sair dizendo que eu mudei de profissão, rs.
Abraços,
Odlave Sreklow.
Por que, pô, tu não és analista de sistemas? Sistemas X programas... acho que um mínimo nexo entre uma coisa e outra deve ter, não? Obs.: eu quero fazer sistemas de Informação. Deus me ajude.
ResponderExcluirOdlave
ResponderExcluirA individualidade que gera solidão mesmo em meio a uma multidão é tão assustadoramente crescente que se é capaz viajar em um ônibus lotado aqui em São Paulo sem conversar com ninguém, aliás, o anormal é justamente ver alguém conversando.
Isto talvez seja um alivio para quem anda de carro, para justamente se isolar das demais pessoas, o que é lamentável.
Mas o que não é lamentável mesmo é sua genialidade para escrever crônicas, parabéns!
Parabéns meu caro Odlave
ResponderExcluirSimples como as pombas, descreveste um encontro de corpos e desencontro de almas.
A coisificação do homem a que ponto chegou, hein?
Abçs,
Levi B. Santos
eu li seu primeiro parágrafo e como sou crente, deletei o teu blog....rssss
ResponderExcluirOdlave, realmente você sintetizou muito bem o que vai na alma de alguns dos "programadores".
Isa,
ResponderExcluirBoa sorte com a faculdade de sistemas de informação. Estou no 8º período, pretendo fazer outra faculdade, porém, estou tendendo à psicologia, me deseje boa sorte, rsrs.
Marcinho,
Em minhas falas (inclusive na época de igreja) e em meus textos, sempre procuro despertar o ato de pensar nos ouvintes, leitores, até em uma simples crônica busco fazer com que as pessoas possam ver ou ter percepções além do que está dito, o pior é que eu ainda explico tudo no final, aprendi com um professor de português que nem sempre é bom explicar, às vezes é melhor deixar a idéia no ar.
Levi,
Obrigado pelo teu comentário, era assim que estava me sentindo, por isso, reproduzi um fato vivido por mim tendo como base uma profissão tão criticada na sociedade, ou seja, não me sentia diferente de um garoto de "programa".
Eduardo,
Você não perde nenhuma oportunidade, rsrs.
Deletou me blog, rsrs.
Bom, espero que ele ainda esteja no teu histórico, para você voltar de vez em quando, rsrs.
Abraços galera,
Odlave Sreklow.
Hum, Mário de Andrade revisited?
ResponderExcluirAbs
Marcos,
ResponderExcluirNão insulte o mestre, ele sim era um grande poeta, rsrs.
Abraços,
Odlave Sreklow.
Amigo Odlave,
ResponderExcluirQue interessante este ensaio!!
A realidade é que, este tal "programa" que parece uma coisa "tão extra-ordinária" rs....acaba sendo, em síntese...o ponto de encontro da ALMA com a SOLIDÃO.
Pois são corpos unidos, mas almas distantes/separadas.....desejos saciados, mas corações doloridos....
E o "encontro" casual pela "carência", acaba sendo, uma fórmula multiplicadora para "mais carência e frustrações"...
ABRAÇOS....
O programa bom de se fazer, e que dá lucro, sucesso e dinheiro....e não nos deixa com o coração partido, é só mesmo DOM para os ANALISTAS, ENGENHEIROS de computação...etc....kkkkkkkk
Obrigado Paulinha,
ResponderExcluirEnxergaste bem a semelhança existente na metáfora apresentada por mim entre a vida cotidiana e a vida de um "garoto de programa", rsrs.
Abraços,
Odlave Sreklow.
Sua esposa tem razão. Fiquei com cara de ué, antes de refletir nos vários momentos da vida que estou só em meio a turba, onde o "automático" fica ligado.Encontros e sintonia de almas é raridade mas acontece.
ResponderExcluirGostei e já fiquei.
abraços
É Adriana,
ResponderExcluirObrigado por tua visita, breve visitarei também sua sala.
Estamos a maioria das vezes no "automático", rsrs, muitas vezes perdendo o fator "momento".
Abraços,
Odlave Sreklow.
rsrsrs...adorei o relato do "busão" kkkkk...muito inteligente mesmo...com final surpreendente...
ResponderExcluirOlá roale72,
ResponderExcluirObrigado por sua visita,
Abraços,
Odlave Sreklow.