quinta-feira, 13 de agosto de 2009

QUAL SUA VISÃO DE PECADO?

Texto retirado do livro "Sem barganhas com Deus" (Caio Fábio) que pode ser baixado em www.caiofabio.com.

De fato, eu sofro quando vejo pessoas afirmarem que é possível a um crente viver sem pecar. Eu creio que a Bíblia ensina que é possível viver sem a “cronificação” da prática do pecado. Isto porque, do ponto de vista da palavra de Deus, o conceito de pecado cobre um campo vastíssimo, e não apenas a área do comportamento Moral-sexual.

Se não veja:
a) Há o pecado onde se peca por omissão (Mt: 25: 41-46). E quem é que não deixa de fazer o bem? Você nunca deixa de fazer o bem? Pelo amor de Deus seja honesto! Leia Isaías 58.6-10 e me diga se você faz tudo aquilo que Deus diz que espera que você não deixe de fazer.

b) Há o pecado onde se peca por motivação. Neste ponto aparecem todas aquelascoisas que “brotam de dentro do coração e contaminam o homem: maus desígnios (você nunca pensa mal de ninguém?), a prostituição (nunca passam pensamentos impuros na sua mente? Ou será que nem de “brincadeira” você nunca sentiu “inveja” dos tempos bíblicos nos quais não era um problema “Moral” um homem ter mais de uma mulher?), os furtos (e aqui nós vamos do furto clássico até o furto de mensagens: eu falo de furtos como aqueles que até os melhores pastores praticam quando roubam sermão dos outros sem citar a fonte, quando pregam idéias de outros sem mencionar onde as ouviram e induzem o povo a pensar que eles “descobriram” tal coisa), os homicídios (que é o sentimento que alguns vão ter em relação a mim e a este livro, apenas porque estou tirando as roupas de suas hipocrisias em público; Mt. 5.21-26), os adultérios (que são antes de tudo motivacionais; Mt. 5.27-28), a avareza (que está presente no coração da maioria dos crentes de posses que eu conheço), as malícias (aqui então nem se fala), o dolo (ou segunda intenção nas ações), a lascívia (que é o apetite sexual pelo próximo, e que devaneia nessa “viagem mental), a blasfêmia (que começa no espírito de murmuração, passa pelas doutrinas erradas e pode chegar ao cúmulo de afrontar a Deus), a soberba (que é o que habita em maior ou menor grau todos os corações humanos, especialmente os dos lideres religiosos), a loucura (que aqui não é doença mental, mas a presunção de pensar de si além do que se deve).
“Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem”.
É interessantíssimo que Jesus ponha todos os males dentro da mesma fonte (o coração), e aumente muito a extensão do pecado que nasce da motivação: vem de dentro e vai do desejo maligno à morte do próximo. Nesta lista temos as motivações sexualmente impuras bem como há pecados do pensamento, da língua, do mau uso do dinheiro, da “esperteza”, da inveja e outros males que só Deus conhece.
Quem pode dizer diante de Deus que está “acima” destes dramas da carne, da alma e do espírito?

c) Há os pecados que se peca por comissão. Ora, tais pecados são tão violentamente fortes e profundos que Isaías sabia que ninguém escapa deles: são os pecados que se peca por se fazer parte da engrenagem da injustiça no mundo: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is. 6.5).
No entanto, a fim de que se saiba da existência de tal pecado, nossos olhos têm que ter visto o Santo. Aqueles que nunca ficaram cara a cara com a Santidade dAquele que é Santo, Santo, Santo, é que ousam pensar que não pecam também por comissão.
É também por causa de tal percepção que Daniel e Neemias confessam os pecados deles e os do povo (Ne. 1.7; Dn. 9.5).
Ora, neste sentido, a própria doutrina da chamada Quebra de Maldições implica, como “princípio”, na idéia do pecado por comissão: o pecado de outros pode cair sobre os descendentes. Ou seja, muitas vezes os descendentes experimentam os “efeitos e conseqüências históricas” naturais dos erros de seus antepassados. Mas não há um carma inquebrável nisto.

d) Há os pecados que se peca por ação. Aqui neste ponto, a Bíblia é tão farta que eu me sinto no direito de não precisar justificar a minha afirmação. O que se precisa é apenas “esticar” a noção de tal pecado.
Ora, no meio cristão, tais pecados têm sido relacionados apenas à área sexual. E é por esta razão que nós temos empresários que não vão para a cama com suas secretárias, mas que fazem da sonegação o grande negócio de suas empresas e que exploram os seus empregados sem nenhuma convicção de pecado.E se eles dão gordas ofertas para a igreja, nós, pastores, fingimos não saber o que acontece.
É também pela mesma razão que há líderes religiosos pregando que não pecam
(porque nunca cometeram adultério na prática), enquanto “derrubam” um colega através de “manobras piedosas” cuja malícia, às vezes, não se encontra nem entre os políticos ateus.
Aqui devemos incluir aquilo que a Bíblia chama de pecados de acepção de pessoas. E deste pecado nenhum de nós se livra. Quem de um modo ou de outro não faz acepção entre pessoa e pessoa, entre ser humano e ser humano, entre um grande líder e um outro que preside algo muito mais inexpressivo? ( Tg. 2.1-13).

e) Há pecados que se peca com a língua. Quando se chega a esta dimensão do pecado aí então é que ninguém fica de pé. Eu jamais conheci uma única pessoa que não tenha pecado e que, eventualmente, não peque com a língua.
É um “comentário piedoso” aqui, é uma “afirmação precipitada” ali; é um “juízo de valores” a respeito de alguém a quem não se conhece e a quem se atribui coisas que jamais passaram pela cabeça de tal pessoa, etc. (Tg.3.1-12; 4.1-12).
Literalmente, só um mentiroso inveterado tem a coragem de dizer que não peca eventualmente com a língua.

f) Há o pecado essencial. Ora, é deste pecado que Paulo fala em Romanos 7:7-25. Eu sei que, hoje em dia, há muita gente tentando negar que tal pecado fosse algo presente na vida de Paulo. Eles dizem que Paulo se referia ali ao período anterior à sua conversão. No entanto, os que assim fazem, violentam todos os tempos verbais do texto: Paulo fala do passado do verso 7 ao 13. No verso 14 ele diz: “a Lei é boa, eu, todavia, sou carnal”. No verso 15, ele diz: “porque nem mesmo compreendo meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e, sim, o que detesto”. Nos versos 16 a 23 ele continua usando os verbos no presente. Surge então a chocantíssima exclamação do verso 24: “Desventurado homem que sou!” A conclusão é gloriosa: “Graças a Deus por Jesus Cristo”. Na seqüência, ele afirma que a Graça o salvou da condenação do pecado, deu a ele um novo pendor, mas não tirou dele as ambigüidades naturais de sua essência pecaminosa (7: 25; 8: 1-17), mas deu a ele recursos para subjugá-la no nível do “comportamento”, ainda que a luta “motivacional” continuasse”( 7:25); a qual, só será totalmente “retirada” de nós quando “este corpo mortal for absorvido pela vida”( I Co. 15.35- 53).

Ora, para todos aqueles que possam ter ainda alguma dúvida acerca da gravidade e da extensão da lista das coisas que Deus chama pecado deveriam apenas ler Colossenses 3.5-9:

“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição (pecado sexual), impureza (pecado sexual), paixão lascívia (pecado sexual-mental), desejo maligno (pecado motivacional), e a avareza, que é idolatria (atitude econômico-financeira; pecado social).”

“Agora, porém, igualmente, despojai-vos de tudo isto: ira( que na maioria das vezes dorme conosco), indignação ( que é o “rompante” de raiva que acontece demais na cozinha, no quarto, ou no trabalho), maldade (que é disposição de fazer algo que vai prejudicar alguém), maledicência (que é a maior desGraça da experiência humana e cristã), linguagem obscena do vosso falar (que é o uso impróprio da linguagem). Não mintais uns aos outros” (infelizmente, algo mais comum que a verdade no meio cristão).

Tiago e João também são veementes com relação a todos os dois extremos da doutrina do pecado.

Há os que dizem: “a nossa natureza é caída mesmo, logo não adianta fazer nada a respeito”. A esses eles dizem: “A fé sem obras é morta”(Tiago 2.17); ou: “Aquele que diz que permanece nele, deve também andar assim como ele andou”; ou: “todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”; ou: “aquele que pratica o pecado procede do Diabo”(I João 2.3;3.8).

Há outros que dizem: “já que eu sou nascido de novo, então isto significa que eu tenho poder para não pecar mais”. A esses Tiago e João dizem: “Pois, qualquer que guarda toda Lei, mais tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”(Tiago 2.10); ou: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”; ou ainda: “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós”( I João 1.7-10).

Ora, o equilíbrio bíblico é aquele que diz:
“Eu sei que sou um pecador que foi redimido pelo sangue de Jesus, mas que precisa crucificar a concupiscência da carne todos os dias, pois a minha natureza é caída e rebelada contra a Lei de Deus. Por isto, eu preciso andar no Espírito e no amor a fim de que eu não alimente minha natureza caída, ainda que, eu mesmo saiba, que conquanto não viva mais na prática do pecado, eu não me livro de reconhecer, todos os dias, que eu sou pecador e que, por essa mesma razão, peco mesmo quando penso que não peco. No entanto, eu me escondo e me glorio na Cruz de Jesus: onde meu pecado foi pago e de onde eu recebo Graça para purificar meus pecados e receber perdão para as eventuais ou freqüentes contradições do meu ser. No entanto, eu sei que a Graça que me perdoa, é também a Graça que me transforma e santifica.
Daí, eu querer e poder viver em santidade, ainda que eu seja um pecador”.

Voltando ao assunto da hipocrisia tenho de dizer que os cristãos precisam, urgentemente, aprender que a maior mentira que se mente na vida não é aquela que se diz, é aquela com a qual se vive.

Precisamos recuperar o senso de “intimidade” e de “interioridade” das verdades do evangelho. Temos de pedir a Deus que nos liberte das falsas e malignas noções de espiritualidade. É urgente reassumir nossa consciência da Queda, que afirma nossa impossibilidade inerente para a bondade absoluta e nos remete humildes e dependentes para a Graça de Deus.

Caso contrário,corremos o risco de nos tornarmos pessoas muito más. Aliás, a História está repleta de testemunhos dessa nossa capacidade de nos tornarmos piores que os piores, e que vem justamente da nossa relação com o Sagrado.

Nada é mais intenso que aquilo que é divino. Por essa razão, quando alguém mantém uma sadia relação com o Sagrado, então, tal pessoa torna-se santa e bonita, pois aprendeu a “descansar na Graça”.

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