segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Operação apreende documentos em sedes da Igreja Maranata


Ministério Público investiga atuação de grupo em um suposto desvio de recursos de doações de dízimos em proveito particular e de terceiros


Tiago Félix
Uma operação do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), com apoio da Polícia Militar, cumpriu 12 mandados de busca e apreensão na manhã desta segunda-feira (26), em sedes administrativas da Igreja Cristã Maranata, na Grande Vitória. A operação teve como objetivo desarticular e colher provas relativas à suposta atuação de uma organização criminosa que opera na igreja.

Os trabalhos do Gaeco tiveram início às 6 horas desta segunda e a operação recebeu o nome de “Entre Irmãos”. Um dos locais onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão foi no Presbitério da Igreja Maranata, no Centro de Vila Velha. No local, policiais apreenderam vários documentos. Atuaram na vistoria ao prédio, policiais da Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam).

Já na Fundação Passos Barros, em Civit II, na Serra, os policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME) e membros do Gaeco apreenderam documentos e um computador. Na fundação funciona uma clínica médica especializada, pertencente à Igreja Maranata. Segundo agentes do Gaeco, a sala da administração do prédio foi lacrada. Também foram alvo da operação locais de retiros espirituais, conhecidos como Manains, em Cariacica, Vila Velha, Serra e Domingos Martins.

Através de ordem judicial os promotores também garantiram a quebra dos sigilos fiscal e bancário dos envolvidos e o sequestro de bens, ativos e valores supostamente desviados, visando ao resguardo e restituição à Igreja e aos cofres públicos do que foi desviado, assim como o afastamento e o impedimento de acesso de toda a direção da Maranata às áreas administrativas da igreja. O acesso aos templos continua liberado aos fiéis.  
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Segundo o MPES, o grupo é investigado desde fevereiro deste ano, por desvio de recursos de doações de dízimos em proveito particular e de terceiros. A organização, segundo o Gaeco, utilizava-se de de falsificações, ocultação e dissimulação de bens e valores. O esquema de corrupção tem envolvimento de pastores, diáconos e até fornecedores e chegou a ser investigado pela cúpula da Maranata. O caso foi parar na Justiça.
Foto: Tiago Felix
Tiago Felix
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) recolheu documentos nas sedes administrativas da Igreja Maranata

Na apuração realizada internamente pela igreja chegou-se ao nome do vice-presidente da Maranata, Antônio Ângelo Pereira dos Santos, que na época chegou a ser afastado. No momento, toda a cúpula da igreja vem sendo investigada, inclusive o presidente, Gedelti Gueiros. Estimativas iniciais da igreja indicavam um rombo R$ 21 milhões. No entanto, a ação protocolada na Justiça pede o ressarcimento de apenas R$ 2,1 milhões.
Investigações

As investigações do Ministério Público Estadual, que tiveram início em fevereiro deste ano, colheram provas e indícios do envolvimento de membros da cúpula da Igreja que, através de pagamentos justificados por notas fiscais ilícitas e sem lastro, emitidas por fornecedores participantes do esquema, promoviam a saída irregular de caixa e de recursos da Maranata, formando uma contabilidade paralela e atendendo interesses contrários à maioria dos membros, à vocação religiosa e às disposições estatuárias da Igreja.

Da mesma forma, há suspeitas de uma série de outras irregularidades, que vão desde a utilização de policiais para guarda e segurança de membros e templos da igreja, à contratação de serviços superfaturados e desvios de emendas parlamentares destinadas à fundação vinculada à Maranata.

Ao todo, quatro membros do Ministério Público e 72 Policiais Militares auxiliaram nos trabalhos. A partir da agora, os promotores irão analisar tudo o que foi apreendido, além de depoimentos de investigados e testemunhas que serão colhidos nos próximos meses.

Foto: Ricardo Medeiros - GZ
Ricardo Medeiros - GZ
Policiais do BME deram apoio à operação
Os crimes investigados são os de lavagem de dinheiro, estelionato, falsidade ideológica, formação de quadrilha e tráfico de influência. 
Doações

Entre os anos de 2005 e 2011, foram destinados R$ 1,8 milhão de recursos públicos por deputados estaduais para a fundação Passos Barros da Igreja Cristã Maranata. Entre os parlamentares que destinaram recursos através de emendas estão Elcio Álvares, Aparecida Denadai, Geovani Silva e Jurandy Loureiro.

Os três primeiros são fiéis da igreja; e o último, amigo pessoal do presidente da instituição, Gedelti Victalino Gueiros. Os valores foram entregues para compra de ambulâncias, subvenções sociais, apoio a entidades filantrópicas, compras de equipamentos e até para melhorias no atendimento.

Quem mais fez doações no período foi Elcio Alvares, no valor de R$ 860 mil. Seguido de Aparecida, Geovani e, por último, Jurandy. A deputada Aparecida Denadai, que destinou R$ 450 mil em emendas parlamentares para a Fundação Manoel de Passos Barros, não acredita que o dinheiro foi alvo de desvios. “Acho que deve estar havendo algum engano, a fundação é um exemplo de administração do dinheiro público”, destacou.

Ela afirma que os recursos foram destinados depois que fez uma visita à instituição, onde verificou que os equipamentos eram para atendimento de pacientes com câncer e problemas renais. “Fiquei impressionada com o atendimento. Nunca me arrependi por ter viabilizado as emendas porque achei que o dinheiro estava sendo bem aplicado, e ainda acredito”, pontuou Aparecida.

A parlamentar acrescentou que conhece os administradores da fundação: “São pessoas honestas, competentes. Tenho convicção de que está havendo algum equívoco. Não acredito que estejam envolvidos em nenhum tipo de desvio”, assinalou Denadai.

A nossa equipe de reportagem ainda não localizou Elcio Alvares, Geovani Silva e Jurandy Loureiro para falarem sobre o assunto. Os advogados da Igreja Maranata acompanharam os trabalhos das policias, mas ainda não se pronunciaram.

A Polícia Federal também realizou nesta manhã de segunda (26) operação nos mesmos locais visitados pelo Gaeco. No entanto, detalhes das buscas não foram divulgados por conta do segredo de justiça.
Fonte: Da Redação Multimídia


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