A partir daí tento mostrar à maioria que a diferença é que nossas casas são centros de consumo, enquanto as de nossas avós e bisavós eram centros de produção. Comida, roupas, energia, insumos, decoração, presentes e objetos de uso eram produzidos nas casas. Quase tudo que a família precisava estava ao alcance das mãos – de habilidosas mãos – que não só produziam, mas também consertavam, mantinham e adaptavam a novos usos quando algo se tornava definitivamente irrecuperável.
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Veja bem: tudo que entra em casa gera embalagem e sai na forma de poluição. Nada fica, nada é aproveitado, tudo é jogado fora, como se “fora” existisse. Para tantos que falam de jogar algo fora, deve existir uma mágica no universo, uma vez que “fora” significaria uma espécie de buraco negro onde tudo sumiria, Emprego polui.quando de fato o que ocorre é que nosso “fora” significa que algo que não queremos deva ser lançado na cabeça de outra pessoa, de outro sistema ou de outra vizinhança. Transformamos o ciclo da vida em cadeia de geração de lixo. E nos prendemos nessas correntes intermináveis que acabam por nos envenenar corpos e mentes.
Para termos acesso a essa cadeia, buscamos dinheiro, e para obtê-lo nos submetemos a mais emprego. Nos coisificamos – reificamos segundo Marx – viramos peça de engrenagem e para manejar a situação buscamos ter mais e melhores empregos e com isso criamos muita poluição. Além de transformar a cadeia em algemas para a vida toda.
Para empregarmo-nos temos dois carros por família, ou usamos muito transporte de massa. Comemos comida pronta para ganhar tempo, inflamos as praças de alimentação de cada Shopping Center, onde produz-se em média dois contêineres por dia de restos de alimento que irão apodrecer em um aterro sanitário. A cada refeição geramos saquinhos plásticos, colheres plásticas, copos plásticos, facas plásticas e muito papel, energia e barulho que acompanham cada empregado, ou executivo, enquanto usufrui de sua ração diária. Nossos filhos vão a escolas e geram mais engarrafamento e stress, mais transportes, mais lanchinhos, embalagens e mais embalagens. Como a comida deve ser fácil e rápida, snacks entram no lugar de frutas ou pães, e com isso mais embalagens. Máquinas e mais máquinas, roupas compradas em lojas, e tudo que nos auxilia a consumir mais, ter melhor aparência e adequarmos nossa vida ao emprego, polui e acelera o sistema. E como pagamento por nosso esforço, ganhamos dinheiro, para comprar mais, gastar mais e poluir mais.
Emprego polui. E só nos empregamos por que não sabemos fazer outra coisa a não ser gerar dinheiro, para comprar mais e fazer menos. E no meio disso, para obtermos a impressão de descanso, nos entretemos diante de alguma bobagem, para que o consumo nos tenha entre tempos. Nos divertimos, para que nossa mente divirja daquilo que é importante. Saímos em grupos, para não sermos importunados pela família. Ligamos a TV para desligarmos a mente daquilo que nos oprime.
Uma boa medida para combater a extrema poluição que assola nosso planeta seria a busca do direito ao desemprego criador.
Eu acho meio irrealizável esta possibilidade. A criatividade humana começou daí e se espalhou na ciência nas artes, etc. Ela pode ser representada na idéia de 'empresa' ou 'empreendimento de fundo de quintal' tão comum nos EUA, mas desprezada por nós - lembra -se do jocoso 'feito em empresa de fundo de quintal'? Seria uma tentativa -esta de criatividade doméstica - de se escrever um 'Robinson Crusoé contemporâneo' fugindo de variantes teóricas que o sistema econômico tem. Os índios consomem também, mas num sistema de economia doméstica e saem do lugar esgotado de recursos iniciando novo ciclo noutro local. Nós não podemos, esse é o dilema. E quem quer voltar a fazer foguinho pra esquentar a janta?
ResponderExcluirA customização parece ser uma alternativa no processo, tirando o aspecto imutável de produtos e serviços, trazendo uma intercambialidade nestes mesmos produtos e serviços.
Olá Marcos,
ResponderExcluirEu coloquei este texto da Bacia porque gosto de como o Paulo visualiza o lado humano das coisas, mas, não é que necessariamente represente meus ideais, rsrs.
Penso como você quanto à questão trabalhista, rsrs.
Abraços,
Odlave Sreklow.