Segundo a história judaica, no início de sua sociedade, Javé, o seu deus, deixou histórias escritas por homens e profetas hebreus para que fossem guardadas como fonte de inspiração para os que quisessem seguir a religião judaica.
Tais fontes foram também adotadas por outras religiões como por exemplo, o cristianismo e islamismo.
Ontem ouvi uma frase que me intrigou muito e eu me perguntei porque eu não havia prestado atenção nesta narrativa antes, deixando passar detalhe tão importante.
O espírito do já falecido Saramago, se apossou de meu computador utilizando como médium o senhor Youtube, e, em um evento aqui no Brasil, dentre diversas coisas, uma frase me chamou a atenção "Em Sodoma não existiam crianças?".
Eu falei: "Putz, batata".
Após uma breve leitura da história da destruição de Sodoma e Gomorra (que daqui para frente chamarei apenas de Sodoma. Não se pode afirmar que a destruição realmente ocorreu ou se é apenas uma parábola/mito), surgiram algumas observações em minha mente, assim segue:
No capítulo 13, verso 13 do livro de Gênesis, Sodoma é citada como um lugar de homens maus e grandes pecadores. Este texto está se referindo à cidade escolhida por Ló, sobrinho de Abrão para habitar.
No capítulo 14 é mencionado uma guerra, onde Sodoma é saqueada, e Ló, é levado como escravo. Abrão sabendo do caso, inicia uma guerra para "tomar" Ló de volta e os bens de Sodoma. O rei de Sodoma queria recompensar Abrão pela ajuda, que, recusou a mesma.
No capítulo 18, à partir do verso 17, está escrita a história de uma negociação entre Abrão e Javé, onde Javé se sente na responsabilidade de não esconder nada de Abrão, já que o mesmo vai ser um grande homem (inicia-se uma idéia de que, se você tem muitos bens, Deus é contigo e não esconde nada de você), ou seja, já que Abrão vai ser o cara, eu, Javé, vou "puxar o saco" dele, porque não vou me "revelar" a um cara qualquer sem futuro, vou me "revelar" a Abrão, que vai ser pai de uma grande nação.
Javé continua dizendo: "Eu tenho ouvido um clamor vindo de Sodoma, vou dar um pulo lá para ver se é verdade o que ouço." (Javé não era onisciente?)
Depois disto Abrão começa a negociação com Javé, "se houverem cinquenta justos, tu destruirás?" e Javé falando que não, até que, reduzindo, parou em dez justos e, Javé disse que não destruiria, teria se enganado Javé nesta hora?
Javé, mudando de planos em não destruir Sodoma se houvessem dez justos, envia anjos para avisarem a Ló sobre a destruição e retirá-lo de lá, juntamente com esposa e filhas.
Ló foi considerado um homem justo, porém, aconteceu algo que gerou em mim certa dúvida sobre o que seja "ser justo" para Javé, pois, os homens da cidade, ao verem os varões enviados por Javé, queriam ter relações sexuais com eles, porém, o tal do homem justo, Ló, ofereceu uma troca, ofereceu suas filhas para serem estupradas pelos moradores da cidade para que poupassem os "estrangeiros" que ali estavam.
As filhas de Ló estavam para casar, isto é ser justo? Entregar suas filhas para serem estupradas é coisa normal para Javé? Contanto que poupe o ânus dos "estrangeiros" ou supostos "anjos"?
E tem mais, qual foi o futuro de Ló?
Para que Deus o tirou de lá?
As duas filhas o embebedaram e tiveram relações sexuais com ele,porque achavam que Deus tinha destruído todas as pessoas do planeta. Destas relações incestuosas surgiram dois povos, os Moabitas e os Amonitas, povos que no futuro entraram em guerra contra Israel, onde Javé, nas guerras, ajudava Israel a destruir estes dois povos.
Ou seja, Deus salvou Ló para criar um "pano de fundo" para Israel? Criar duas novas tribos para que Israel guerreasse contra eles?
O Gênesis continua dizendo que os anjos os retiraram da cidade apressadamente enquanto Javé mandava "bala" na cidade.
Digamos que realmente todos homens de Sodoma fossem "injustos", será que não havia nenhuma mulher justa?
Digamos que realmente todos homens e todas mulheres de Sodoma fossem "injustos", não haviam crianças na cidade?
Crianças são consideradas justas ou injustas por Javé baseado em que?
Sinceramente, este Javé que mata crianças devido ao pecado de adultos para mim não deve ser chamado de Deus.
Estou indignado porque por muito tempo minha frase foi:
"Aleluia, Deus salvou Ló e sua família, e todos os injustos morreram, aleluia"
Mas graças a "Mim", agora minha frase é:
"Puta que pariu, Deus matou todas crianças de uma cidade por causa do pecado dos adultos, e somente salvou a vida de um homem que depois não teve futuro nenhum".
Odlave Sreklow.
É o mesmo pensamento que tenho em relação à 'queda do homem' no Éden. O que que eu tenho que ver com o Adão sem noção e a Eva com seus deslizes? Porque eu tenho que pagar o pato? E referente a seu comentário "(inicia-se uma idéia de que, se você tem muitos bens, Deus é contigo e não esconde nada de você)", parece que já ouvi algo parecido em igrejas que cultuam a teologia da prosperidade e em programas tele-evangélicos com pastores maquiados pregando 'prosperidade' .
ResponderExcluirAbs
Os antigos de antes assim como os antigos de hoje sempre são impressionáveis pelas chamadas ações divinas, e por isso sempre interpretaram historias trágicas como punições divinas, daí que uma cidade inteira de homens imorais pegando fogo era um prato cheio para a mente daquela gente, a única que realmente sabia a verdade sem sobrenatural para nos contar virou estatua de sal...
ResponderExcluirMarcos,
ResponderExcluirSim, era uma alusão ao invangelho da prosperidade, rsrs.
Gresder,
A narrativa da mulher também tem relação com a minimização do ser feminino, onde, além de comer a merda da fruta ainda olha para trás pra se "fuder" e virar uma estátua de sal.
Enquanto o homem prossegue, mesmo que para "fuder" com as filhas incestuosamente e não ser castigado por isso.
Ou seja, olhar para a cidade pegando fogo é castigo, mas, entregar as filhas para serem estupradas ou se embriagar em um lugar na frente delas não é.
Abraços,
Odlave Sreklow.
Eu já falei sobre isso em vários comentários espalhados por aí, que uma das primeiras passagens bíblicas que me fizeram questionar o caráter do deus do AT (ou ao menos dos seus descritores) foi a "célebre" narrativa do profeta Eliseu (eu acho) mandando uma ursa devorar uns moleques só proque eles o tinham chamado de "calvo". Realmente, um deus que se importa mais com o ego de um homem do que com a vida de vários meninos é muito idiota.
ResponderExcluirO mesmo pode-se dizer em relação ao personagem da tua postagem, Ló. Uma cidade inteira destruída, apenas um homem salvo. Não que crianças sejam "santas" (no sentido popular do termo), nego-me a crer nessa bobagem, mas no caso de Sdoma já é ser tendencioso demais.
Eva, já respondi no seu texto na confraria que não devemos ler esses textos com o nosso olhar. Aquilo foi escrito a centenas de anos, conforme um propósito definido que nada tem a ver conosco.
ResponderExcluirNem mesmo os judeus de hoje, lêem tais textos literalmente, esse erro só os cristãos de forma geral ainda cometem. Detalhe teológico: o texto expressa a salvação coletiva. Um justo, poderia salvar a nação, daí, a insistência de Abraão com Deus. Note que na época profética, essa ideia cai em desuso e Jeremias vai dizer que cada um é responsável por si diante de Deus.
Mas é claro que o teu texto é ótimo para que cristãos conservadores pensem sobre isso, quem sabe eles não percebem que fazem um desfavor ao próprio deus cristão ao relacioná-lo com um evento que foi construído de forma teológica, para expressar visões teológicas que já caíram em desuso no próprio texto bíblico? Ninguém nunca pensa nas crianças de Sodoma...assim como ninguém pensa nas mulheres de atena.
Confere o texto que está lá na sala do pensamento onde eu comento sobre o culto de sacrifícios estabelecido em Levíticos e a negação desse mesmo culto no profeta jeremias.
ResponderExcluircom toda sinceridade a biblia ela e injusta em varios sentidos com os homosexuais q culpa eles tem de gostar do mesmo sexo
ResponderExcluirElton,
ResponderExcluirA Bíblia somente é injusta quando o leitor a vê como a palavra de uma divindade.
À partir do momento que você a vê como apenas escritos que refletiam a consciência do escritor entende que a mesmas somente é o reflexo da sociedade onde o escritor viveu. Nada além disto, não é justa, não é injusta, não é a verdade, não é a mentira, é apenas a expressão do escritor e da sociedade em que fora escrita (para quem fora escrita).
Abraços,
Odlave Sreklow.