quinta-feira, 14 de março de 2013

MARANATA: PROMOTOR RECEBE LISTA DE PESSOAS MARCADAS PARA MORRER

Testemunha denuncia ameaça após prisões

Empresário recebeu telefonemas e ouviu: "Vou te pegar"

VILMARA FERNANDES | vfernandes@redegazeta.com.br

No dia em que líderes da Maranata foram presos sob a acusação de coagirem testemunhas, uma pessoa voltou a ser ameaçada. O fato ocorreu no início da tarde da última terça-feira, três horas após as detenções. O crime foi cometido contra um ex-fiel da igreja que prestou depoimentos considerados importantes no processo que apura o desvio de recursos de dízimo doado pelos fiéis. O promotor de Justiça Paulo Panaro, do Grupo de Atenção Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), não tem dúvidas: “É uma grave ameaça com o intuito de causar mal à pessoa”, declarou.



Até esta quarta-feira, segundo apontam as investigações, pelo menos 20 pessoas – incluindo promotores e uma juíza – foram ameaçadas pela cúpula da Maranata desde outubro passado. O objetivo era fazer com que mudassem depoimentos que já haviam prestado e que incriminavam membros da igreja. Sete delas, segundo os promotores, já mudaram suas declarações.
Foto: Ricardo Medeiros | Arquivo
Ricardo Medeiros/Arquivo
A ameaça feita nesta terça a uma das testemunhas deu-se por telefone. Após três ligações, foi dito: “Está satisfeito com o que conseguiu? Vim de muito longe para te pegar. Vou esperar só a poeira abaixar para te pegar, seu ...”. Após o susto, o ameaçado procurou o Ministério Público Estadual e formalizou uma denúncia. Nesta quarta, a pessoa prestou depoimentos e fará o mesmo nesta quinta, à Polícia Federal.
Segundo Panaro, esta foi a primeira ameaça direta feita com o intuito de “causar mal injusto e grave”. Acrescentou que o fato caracteriza crime de coação no curso do processo por se tratar de grave ameaça.


O promotor explica que o objetivo, mais uma vez, foi o de tentar fazer com que a testemunha mudasse depoimentos já prestados ao processo que investiga as fraudes. “É uma testemunha importante para o caso. Como é uma pessoa determinada, que não seria dissuadida com recados, resolveram partir para ameaça mais grave”, frisa Panaro.
A GAZETA conseguiu conversar com o empresário, cujo nome não será revelado por segurança. Ele garantiu que, mesmo com ameaças, não mudará seu depoimento. “Jamais farei isso. Falei a verdade”, disse. Segundo Panaro, estão sendo feitas investigações para descobrir quem fez as ameaças. O promotor não descarta, inclusive, a possibilidade de novas prisões.

Lista de marcados para morrer

O promotor de Justiça Paulo Panaro informou nesta quarta-feira que recebeu uma lista de pessoas que estariam marcadas para morrer por conta das denúncias. “O assunto ainda está sendo investigado”, diz. Entre os ameaçados estariam advogados, servidores públicos e até uma autoridade.


Vítima de coação

O empresário ameaçado de morte após as prisões de líderes da Maranata é um ex-fiel da igreja. Ele garante que, mesmo com as coações, não pretende mudar o testemunho que já prestou aos promotores do Ministério Público Estadual. “Não mudo de jeito nenhum”, garantiu. Confira abaixo mais detalhes da entrevista concedida para A GAZETA, na tarde de ontem.
Quando o senhor foi ameaçado?
Terça-feira, por volta das 12h20, após as prisões dos pastores.
Como aconteceu?
Eu estava dirigindo quando o telefone tocou. Mas o celular ficou mudo, e desligaram. Na segunda vez, aconteceu a mesma coisa. Na terceira, uma pessoa perguntou se era eu quem estava falando. Quando confirmei, respondeu: “Está satisfeito com o que conseguiu? Vim de muito longe para te pegar. Vou esperar só a poeira abaixar para te pegar, seu ...”
O que o senhor fez?
Procurei o Ministério Público Estadual e formalizei um comunicado.
Sentiu medo?
Sem dúvida, muito. Pela primeira vez senti que a situação não estava bem.
Identificou a voz?
Não, mas identifiquei um sotaque, do Sul da Bahia. Foram utilizados dois números, já informados ao MP.
Essa foi a primeira ameaça?
De forma direta sim, mas houve outras.
Como?
Em outra situação, eu estava próximo a um shopping, em Vitória, quando um carro parou ao lado do meu. O motorista fez um sinal com a mão, simulando uma arma atirando. Em seguida, arrancou com o carro.
E as outras?
Indiretas, recados.
E a família do senhor?
Em uma ocasião, me avisaram para evitar sair com a família, porque quem estivesse comigo, em meu carro, também seria atingido.
O senhor mudou seu comportamento?
Completamente.
Prestou depoimento?
Ao MPE e também vou à Polícia Federal.
Pensou em mudar seu depoimento?
Não mudo de jeito nenhum. Não falei mentiras, tenho um compromisso com a verdade. Se mudá-lo, vou transigir com a verdade, e isso eu não faço. Então, podem me matar. Morro, mas o que está escrito vai continuar, porque disse a verdade.


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