quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Rede de relacionamentos



A necessidade de se relacionar com outras criaturas de mesmo espécime foi um dos fatores que auxiliaram na evolução do ser humano.
Alguns poderiam dizer que "Deus não nos fez para vivermos solitários", outros poderiam dizer que "nossos antepassados símios viviam em bando", de qualquer forma, a vida em comunidade fez com que o ser humano evoluísse biologicamente e, principalmente, intelectualmente (que não deixa de fazer parte da evolução biológica, óbvio, rsrs).

A necessidade de não se ver só neste universo levou a imaginação humana à transcender do âmbito real, fazendo com que criasse para si, mundos, universos e dimensões paralelas.

Nossos antepassados já utilizavam-se de substâncias alucinógenas que auxiliavam no processo de evolução sobrenatural e psíquica dos relacionamentos extra-humanos.

Mas quem gosta de se sentir só? Ninguém.

Quando nascemos, somos apresentados à nossa primeira rede de relacionamentos, nossa família.

Com o passar do tempo, esta rede vai se ampliando, porém, ao mesmo tempo que amplia-se, também perde alguns personagens.

Quando começamos a andar, adicionamos à nossa rede alguns outros familiares, vizinhos, amigos dos nossos pais e alguns outros personagens.

Em alguns destes momentos, seres imaginários são adicionados à nossa rede de relacionamentos.

Quando entramos para o jardim de infância, agregamos à nossa rede novos amiguinhos. Quando mudamos de classe, perdemos o contato com alguns, mas são adicionados novos.

Nossa rede de relacionamentos é dinâmica, contínua.

Quando entramos no ensino fundamental, perdemos antigos e ganhamos novos integrantes em nossa rede.

O processo é semelhante à morte e ressurgimento de novas células a que está submetido nosso corpo.

Aí vem o relacionamento amoroso, o primeiro emprego, a troca de emprego, a troca de parceiro, onde a nova namorada ocupa o lugar da antiga.

Chegamos ao ensino médio, depois faculdade, o ciclo continua em sua incansável adição e subtração de membros.

Quantos integrantes dessa rede pode ser mantido pelo nosso cérebro?

Idade, sexo, preferências, gostos, manias, tudo armazenado, de cada pessoa.

Sem falar dos fatos e atos que acontecem em nossos relacionamentos, cada um com uma ligação única (ou não).

Muitos se foram, muitos chegarão, mas, quem realmente permanecerá?

Quem nós escolhemos para fazer parte de nossa rede de relacionamentos atual?

Neste dia? Agora? Neste momento?

Quem é importante para nós?

Para quem nós somos importantes?

De fato, a solidão eleva o homem à mais alta idealização da inexistência.

A necessidade de companhia fez o homem criar seres imaginários.

Seres que pudessem observá-lo, assim, esses seres poderiam recitar frases como "Você não está sozinho", "Eu estou contigo", "Eu te ajudo e te guardo", "Eu morri por você".

Neste século ainda existem pessoas que esquecem de se relacionar com aqueles que estão próximos, e enchem seus perfis do Orkut, Facebook e afins de "amigos". Onde estão todos eles?

Com quantos destes acordo pela manhã? Com qual deles pego o ônibus? A qual deles dou carona? Almoço com algum deles? Fim de semana no bar, tomo cerveja com algum deles?

Amigos, amigos, amigos.

Quem disse que são para sempre estava mentindo.

Para sempre na memória? Não, é exigir demais de nosso cérebro semi-evoluído.

Nós temos amigos momentâneos, sim, eles nem sempre estarão ali.

De vez em quanto temos que reavaliar nossa rede de relacionamentos.

Passar a considerar quem realmente está integrando esta rede hoje, agora.

Quem faz parte de sua rede de relacionamentos? Por onde você começaria?
Esposa, filhos, pais, parentes, colegas de trabalho, amigos, etc. Qual é o primeiro ponto da rede? Onde ela termina?

Temos oportunidade de nos relacionar com gente, de conversar, rir, chorar.

Para que então a busca incansável de um relacionamento com seres inexistentes? Para que viver forçando sua mente, obrigando-a a crer em algo que ela não pode afirmar, não pode observar. Utilize seu cérebro para pessoas e coisas reais.

Nosso cérebro aprende com a experimentação.

Olha, uma maçã, o gosto, o cheiro, a cor. Pronto, aprendido, isso é uma maçã.

Agora pense, olhe, um Deus, um anjo, um demônio, um gnomo, um duende, um unicórnio rosa.

Onde? Cadê? Qual a cor? Qual o cheiro? Preciso gravar, memorizar. Não tem? Vou ter que jogar para a parte do cérebro onde são jogadas as coisas indefinidas, vai ficar marcado como "pendente". Haveria um lugar reservado para estes seres místicos em nossa memória?

Alguém poderia falar aqui então de amor, tristeza, ódio. Tais itens não podem ser comparados à deuses devido ao fato de que "amor" sentimos quando vemos alguém que desperta em nós algo que envolve nosso sistemas biológicos, gerando sensações. Tristeza, quando somos acometidos de informações ruins, ódio, quando cresce em nós o desejo de fazer o mal.

Digo isto porque é comum fazerem comparações de divindades com sentimentos, tipo "Se Deus não existe, então, o amor também não existe, porque da mesmo forma que não se toca ou vê Deus, não se toca ou vê o amor".

Que tal desfragmentar a memória e ver se organizamos um pouco a casa de vez em quando?

Boa noite Odlave.


Odlave Sreklow.


4 comentários:

  1. Odlave

    Tudo começou quando o homem teve o primeiro sonho.

    Ora, o que não podemos é sonhar durante 24 por dia (rsrs).

    Você está certo ao dizer que a maçã virtual não tem gosto, cheiro e cor. (rsrs)

    PRA SONHAR

    Como é por dentro outra pessoa
    Quem é que o saberá sonhar?
    A alma de outrem é outro universo
    Com que não há comunicação possível,
    Com que não há verdadeiro entendimento.
    Nada sabemos da alma
    Senão da nossa;
    As dos outros são olhares,
    São gestos, são palavras,
    Com a suposição de qualquer semelhança
    No fundo.


    (Fernando Pessoa)

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  2. Mestre Levi,

    Nosso cérebro é um sacaninha.

    Assume o controle do teatrinho e nos faz de fantoches.

    Vive nos pregando peças.

    Viagens entre sonho e realidade constantes.


    Abraços,

    Odlave Sreklow.

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  3. Olá Odlave...(acertei agora, rsrs). Li teu texto e por acaso, veio a calhar com um projeto q estou fazendo em psicometria, uma pesquisa informal sobre 'amizade na hipermodernidade'...coleta de dados para experimentação. Se vc autorizar, posso utilizá-lo?Abs.

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  4. Olá Elídia,

    Não sei se meu texto teria alguma utilidade em seu projeto, rsrs.

    Estou buscando escrever textos apenas com coisas "abstratas" de meus pensamentos, nada científico ou com base em algum escritor, filósofo, sociólogo famoso, etc., rsrs.

    Apesar de ser bastante pessoal, creio que algumas coisas podem ser aprofundadas partindo da simplicidade das ideias apresentadas.

    Abraços,

    Odlave Sreklow.

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