quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

GRANDES NOMES DA CIÊNCIA: KANZ



O bebê de olhos escuros viu o raiar do dia. Seu murmúrio disse à sua mãe que ele estava com fome, e ela — como toda mãe zelosa — o amamentou. Aos poucos, o lindo bebê vira o rosto e começa a prescrutar o mundo e ele não sabe que será estudado por vários cientistas. Suas habilidades serão observadas e até pelo modo como ele pensa. Isto porque Kanzi, o bonobo, mostra como são pequenas as diferenças entre fera e homem.


Kanzi nasceu em 28 de outubro de 1980, no mesmo ano que o urso Misha chorou nas Olimpíadas de Moscou. Ele seria como mais um macaco idiota, se idiotas fossem os macacos. O fato de alguns humanos agirem como idiotas não é culpa da ordem dos Primates. Sabendo que a variação genética está entre 2 e 10%, estamos bem cientes de onde está o problema. De qualquer forma, macacos não são idiotas, pois são capazes de fazer ferramentas, pescam, guerreiam e espalham notícias (ok, a parte da guerra reflete certo grau de estupidez).

Kanzi pertence à raça dos bonobos (Pan paniscus), os quais são muitas vezes — e de forma errônea — chamados de “chimpanzés-anão”, sendo que há muitas diferenças entre eles, principalmente em termos de comportamento. Enquanto chimpanzés são mais violentos, sexistas, xenófobos e belicosos (lembraram-se de alguém?), bonobos são pacíficos, mantendo uma sociedade calma, ordeira e gentil, onde as pessoas dão mais ênfase ao comportamento homo ou bissexual de seus integrantes do que o modo como os membros de sua sociedade interagem mutuamente.

Como? Você não sabia que animais tidos como “irracionais” apresentam como homossexual? Que coisa, né? (agora, algum idiota vem aqui dizer que eu chamei homossexuais de “irracionais”, já que interpretação de texto não é pra qualquer um.)

CriaBURRIcionistas idiotas (desculpem o pleonasmo) normalmente enchem o saco pedindo por elos perdidos, perguntando porque macaco não vira mais gente, fazendo relações idiotas e se achando os supra-sumos da imtelijênça ao repetir besteiras desde o tempo de Huxley. Obviamente, quando se coloca links como os que demonstrei acima, eles são formalmente ignorados e continuam repetindo a mesma ladainha, quais papagaios.

Kanzi — cujo nome significa “tesouro”, em swahili — nos dá um vislumbre da evolução da inteligência humana. Há muitos anos ele vem sendo estudado por cientistas, como a drª Sue Savage-Rumbaugh, primatologista que estuda processos de linguagem de símios, utilizando para isso lexigramas, isto é, representações simbólicas visuais de palavras, semelhantes a ideogramas japoneses (eu disse “semelhante” e não “igual”). Kanzi possui um vocabulário próprio de cerca de 200 palavras, mas é capaz de entender bem mais; em outras palavras, ele é capaz de ler o Cet.net e interpretar os textos melhor que muito paraquedista que aparece aqui tentando me corrigir. E eu nem vou compará-lo com comentaristas do YouTube ou do Yahoo! Respostas.

O The Telegraph nos brinda com uma coletânea de fotos mostrando Kanzi preparando seu almoço, e quando eu falo isso, falo no sentido literal, pois ele pegou a lenha, acendeu o fogo e cozinhou sua comida, mostrando como a dieta dozida faz uma grande diferença e, parar horror dos vegans, não foi saladinha que ele comeu. O Daily Mail também trouxe uma matéria sobre isso.
Assim, não vale! Ele não fez o fogo com dois gravetos ou atritando duas pedras, ele usou fósforos, blé!
Você não está errado, só que pensemos que ele usou ferramentas de forma adequada. Ele sabia o que estava fazendo, acarretando que o simples processo pavloviano não bastou. Ele teve que recolher o material e usar os meios que dispunha de FAZER a comida, coisa que ele efetivamente fez.

O trabalho com Kanzi rendeu até mesmo um livro de nome Kanzi: The Ape at the Brink of the Human Mind (Kanzi: O símio à beira da mente humana), e a drª Savage-Rumbaugh até mesmo falou sobre isso no TED.
A capacidade de controlar o fogo representa um passo evolutivo importante que ajudou a melhorar a dieta dos seres humanos, impulsionando-nos em nosso desenvolvimento cognitivo, acarretando no desenvolvimento de cérebros maiores, mais sofisticados e desenvolvendo meios de comunicação, e, eventualmente, a conquista de nosso mundo. Kanzi demonstrou não ter medo da tecnologia nem de uma nova fronteira que se desenhou frente a ele. Ele não toucou o monolito negro, ele fez um próprio para si.

Kanzi não é cientista, omo pensamos nos cientistas atuais, mas ele mostrou-se à altura da aventura humana em termos de técnica e conhecimento. É capaz de se comunicar e usar ferramentas e, ao menos até agora, não demonstrou nenhum desejo de exterminar outros macacos próximos a eles. Kanzi, então, nos ultrapassou em termos de evolução e, por isso, deve ser visto como um ícone, mas não um irmão. Ele é muito melhor que isso.

Esta é a postagem de fim-de-ano do Ceticismo.net. A todos vocês que nos acompanharam ao longo de mais 365 dias, fica-se o desejo que nós possamos ser como Kanzi, sem ter medo do futuro, sem ódio, sendo capazes de interagir com nossos semelhantes (ou não tão semelhantes assim), usando recursos que estiverem ao nosso alcance, sem destruir tudo (ou todos) em volta.

Fica aqui um agradecimento a todos os que nos acompanharam, comentaram, criticaram e até mesmo xingaram (já que estes são fontes de divertimento) por todo este ano. Espero tê-los aqui neste canto, onde sempre traremos assuntos relevantes (ou nem sempre), com nosso modo habitual de divulgar a Ciência e o pensamento crítico.

Feliz 2012, pessoal… ou pelo menos até o dia 21 de dezembro.


Esta postagem foi baseada num tuito do Cardoso
Para saber mais:


Fonte: http://ceticismo.net/2011/12/31/grandes-nomes-da-ciencia-kanzi/

Odlave Sreklow.

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