Eu estava ali, à beira do mar junto a meu irmão e meu pai, consertávamos nossas redes de pesca.
De repente O vi ao longe. Seu olhar me contagiou, já nos conhecíamos, sabia que esta hora chegaria. Meu pai também, por isso nem questionou nossa decisão. Minha vida mudaria drasticamente.
Caminhamos dia após dia sem saber o que aconteceria no próximo amanhecer.
Ele nos falou de uma nova vida.
Nos falou que não tinha sentido algum juntar dinheiro, até uma vez falou para um jovem dar tudo o que tinha àqueles que não tinham nada.
Era totalmente despreocupado.
Até quando faltava o pão, Ele permanecia tranquilo.
Onde passávamos as pessoas eram contagiadas por sua alegria, vinho, nunca faltou.
Vez ou outra dava para matar saudade da pesca, a gente pescava junto e Ele se mostrava entender mais de pesca que meu pai.
Apesar de estar com Ele tinha algumas coisas que eu não entendia. Por exemplo quando Ele disse que eu tinha que amar meus inimigos, estranho isso, porque o profeta Isaías tinha dito que nós seríamos recompensados e nossos inimigos seriam julgados, haveria um juízo sobre eles, mas, tudo bem, eu deixava isto de lado.
Certa vez solicitei à minha mãe que pedisse para que eu e meu irmão pudéssemos ficar assentados ao lado Dele quando iniciasse seu reinado.
Estranhei um pouco quando Ele disse que isto não seria possível e que deveríamos todos ser iguais, sem hierarquias, sem um governante, porque, segundo Ele o mundo tem governantes, conosco seria diferente.
Às vezes não dava para engolir seus ideais.
Aprendi muita coisa com Ele.
Eu comecei a viver conforme Ele falava.
Deixei de ir à sinagoga para os encontros judaicos e passei a ir apenas para anunciar o Messias.
Imaginei que não encontraria jamais uma pessoa como Ele, que falava diretamente com Deus.
Ao final de três anos ele foi morto.
Três dias depois de sua morte recebemos a informação de que tinha ressuscitado, eu não acreditei naquilo, mas, preferi deixar acontecer.
Nós nos trancamos em casa, choramos até quase perder os sentidos, e, de repente, tivemos uma visão coletiva, ali estava Ele.
Nos lembramos de ter ouvido algumas instruções.
Mas, depois que nos deixou, nos sentimos sem direção, nos sentimos novamente sós.
Com Ele era diferente, e agora, como seria?
Ele não nos tornou líderes, ele nos tornou discípulos, nós dependíamos Dele.
Na verdade, o que queríamos era alguém que nos liderasse.
Alguém que dissesse o que a gente devia fazer.
Ficamos sem saber o que fazer.
Pouco tempo depois, ouvi dizer de um cara que tinha se intitulado o 13º Discípulo.
Eu já tinha ouvido falar dele, mas, não era coisa boa.
Ele mandou matar alguns amigos meus.
Me disseram que ele tinha encontrado o mestre.
A princípio eu não acreditei, mas, ao nos encontrarmos com ele vi que ele falava com eloquência.
Não era possível que um homem tão convicto do que falava estivesse errado.
Nós ouvimos ele e, ele começou a nos falar coisas que o mestre nunca havia dito.
Ele tinha pulso forte, era o que a gente esperava do mestre.
Até acho que o mestre deve ter escolhido este cara para fazer o que Ele não podia fazer, devido ao fato de ser filho de Deus.
Por exemplo, as mulheres não tem muito espaço em nossa sociedade, somos uma sociedade patriarcal.
O mestre dava muita atenção às mulheres e colocava elas em seu ministério.
Este novo discípulo disse que as mulheres deveriam se calar em nossas reuniões.
Ele está dizendo isto em Nome do mestre.
Eu acho que agora, o mestre está iniciando seu reino, agora sim, ele está parecendo com o Messias que a gente esperava.
Eu estive com o mestre durante três anos, depois de sua morte e ressurreição o vimos algumas vezes.
Este novo discípulo parece que fala com Ele todos os dias.
Acho que o mestre ama muito ele.
A gente não concordava com o mestre quando Ele dizia que todos eram iguais, este novo discípulo disse que temos que definir uma hierarquia, definir cargos.
Agora sim, era isto que a gente esperava que o mestre fizesse antes, mas, que bom que ele está usando um novo servo para revelar estas coisas que a gente já queria antes, o mestre é muito bom, não nos abandonou.
Certa vez o mestre havia dito que o que entra em nossa boca não nos consome, mas sim o que sai dela.
Eu não concordava muito porque tem muita coisa que a gente come que faz mal.
O novo discípulo disse pra gente não comer carne perto dos que se escandalizavam e não comiam carne.
Tinha que ter alguma regra sim, sempre foi assim.
O mestre havia dito que o Templo não era necessário, que seria destruído, que Ele era o Templo, que a gente era o Templo.
O novo discípulo diz que temos que nos encontrar em um novo templo, menor, que construímos recentemente com ajuda dele, e que ali era o lugar onde Deus estaria presente.
Gostei muito porque já estava tendo vertigens de ficar reunindo em cavernas, e sepulcros e, em nossas casas, afinal de contas, um lugarzinho aconchegante era tudo que a gente queria, aleluia.
Este novo discípulo me impressiona, recentemente ele disse que qualquer pessoa que surgisse com outra mensagem diferente da dele deve ser considerada maldita.
Sinceramente, agora sinto orgulho em ser cristão.
Às vezes fico pensando se aquele galileu em quem eu costumava reclinar a cabeça sobre seus ombros era realmente o messias, ou se, talvez, o messias não seja Paulo.
Tenho minhas dúvidas quanto a isto porque o que Paulo diz vai muito além do que aprendemos com o mestre, Paulo aparenta ser mais inteligente que o mestre.
João.
Inspirado em diversas conversas entre eu e o Bill, e, para ser mais exato, neste post publicado por ele:
http://noticiasdobill.blogspot.com/2010/05/sobre-discipulos.html
Odlave Sreklow.
Haha.. Odlave, você aprimorou minha heresia. Parece que já tenho um mano na fogueira! Como eu disse, nada contra o 13o discípulo, desde que se saiba que certas coisas dele eram coisas dele, e não novas revelações divinas.
ResponderExcluirAchei legal, Odlave, mas ao mesmo tempo confuso. Do jeito como está escrito, parece que Paulo inventou um "evangelho novo", contrariando os mandamentos do Senhor Jesus (pelo menos parte deles e inventando novos). Inclusive esse Paulo aí escrito no texto (que não parece ser o mesmo da Bíblia) se parece muito com os líderes atuais que recebem revelações específicas para suas denominações (uma delas, da qual você saiu - principalmente na parte que diz pra ser anátema! - lembrando que eles imitam a Paulo e não Paulo a eles). Mas voltando, a diferença principal é que Paulo realmente recebeu um chamado claro da parte do próprio Senhor. E quanto a aceitar somente parte dos seus ensinamentos (revelados pelo Senhor), aí fica um ponto extremamente difícil: Se fizermos isso, é como se estivéssemos criando uma Bíblia particular (cada uma tem a sua, com os versículos que preferir). E daí surgem as seitas, heresias, etc... Eu ("eu") particularmente quando vejo um texto bíblico que "não aceito" (à princípio), prefiro pensar que não entendi ainda o seu significado. Então busco do Senhor o entendimento (porque a Bíblia é perfeita). OBS: E eu vejo Paulo com o 12o discípulo (esse é assunto pra outro post). E o João aí deve ser o obreiro "Juca" (rs), porque o João (discípulo) com certeza não escreveria os últimos parágrafos.
ResponderExcluirOlá "andimarj" Graça e Paz,
ResponderExcluirObrigado por tua colaboração nesta sala de pensamentos.
Este texto é apenas uma crônica (eu não deveria tentar explicá-lo porque seria para cada um concluir o que quisesse concluir, eu explicando estraga o texto, rsrs).
Mas vamos lá.
Os personagens a quem me refiro são exatamente os citados por você.
O que quero expor é exatamente a questão que me é imposta sempre pelos ditos "evangélicos" nos diálogos que iniciam comigo, sempre dizem as mesmas coisas, tipo:
Paulo disse, Paulo disse, está na Bíblia (99% usando textos de Paulo), etc.
Sinceramente, vejo muita diferença entre Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré.
Na verdade, os textos que você não concorda na Bíblia e quer imaginar que é devido ao fato de "esconder" alguma coisa que você não descobriu ainda, não tem nada disto.
A Bíblia não tem nada a "esconder" de ninguém
Os textos que você discorda são o que são. Na Bíblia existem mitos, existem palavras de pessoas de Deus, existem palavras de Jesus reproduzidas, existem inserções de ensinamentos judaicos que vieram de sua cultura, existem inserções do cristianismo denominado Romano.
Eu acho engraçado a igreja evangélica ficar criticando a igreja católica, e, mesmo assim usar o livro desta como regra de fé.
Se o judaísmo e o catolicismo estão errados, porque usamos seus livros como a única e verdadeira palavra de Deus? (rsrs, só uma pequena crítica, rsrs)
A Bíblia como a vemos hoje, foi "montada", ou melhor, os pergaminhos encontrados foram "filtrados" pelas autorizades cristãs católicas/romanas em seus concílios. Esses caras foram os mesmos que mataram muita gente e decidiam sobre a vida das pessoas.
Eu, sinceramente, ainda creio naquilo que foi registrado em nome de Jesus, nos Evangelhos, sabe porque? Porque ali dificilmente se encontra algo que alimente o ego de qualquer religião ou império, a mensagem ali transmitida transmite nossas preocupações ao humano, e, demais textos, inclusive a maioria do que Paulo escreve, foram tentativas de explicar coisas que nem precisariam ser explicada, ou seja, tem boi na linha.
Espero que não deixe de visitar esta sala, espero que não conclua que meus textos não sejam dignos de serem escritos, espero que contribua para aquilo que Paulo disse (estou usando Paulo?), quando ele fala que não somos perfeitos, mas, caminhamos para isto.
Um grande abraço.
Desta pessoa que já foi chamada de Herege, Ateu, Deísta (não que seja ruim, rsrs) e filho do diabo (este é ruim, rsrs), simplesmente por usar sua capacidade pensar, refletir e questionar.
Odlave Sreklow.
pobre do João que se deixou fascinar pelo nariz empinado do porta-voz oficial da graça de deus...
ResponderExcluirNada contra o paulo teólogo. Muito contra o paradgima: "Paulo disse que", pronto, nada além disso é relevante.
A Paz do Senhor, irmão Odlave.
ResponderExcluirEu entendo o que você está dizendo. Só fiz questão de frisar a preocupação na separação ("discriminação") de textos da Bíblia, porque daí surgem muitos problemas (já citei alguns). E nesse ponto também convém lembrar de II Pedro 1: 21, 22: "Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo."
Entendo ver a Bíblia atual ("montada", como você disse) como perfeita, como um ato de fé: crer que Deus (soberano) quis que ela fosse assim nos nossos dias e ponto. Cabe a nós agora entender, pelo Espírito Santo, o que Deus quis nos ensinar em cada versículo.
Quanto à sua assinatura, o que importa é o que Deus pensa de nós e não o que dizem (lembrando-me dos primeiros versículos de Jó). É a Ele (somente a Ele) que servimos e vamos prestar contas. Diante de Deus o galardão é segunda as obras (não segundo o cargo) e a salvação pela graça.
Nota: A Bíblia católica não é igual à Evangélica (Mas eu nem quero começar aqui uma discussão sem proveito sobre qual é a verdadeira). O ponto é: Qual a mensagem da Igreja (evangélica/cristã)? Anunciar a salvação através de Cristo Jesus (Marcos 16:15) e a sua volta para buscar a sua Igreja (e não acusar as outras religiões, como vemos muito por aí). Aliás, pra terminar, era nisso que todo cristão deveria pensar todos os dias: Quantas pessoas o Senhor me usou para salvar hoje? Quantas eu abençoei hoje? O que Deus pensa a meio respeito neste exato momento? Se todos pensassem assim, não veríamos tantas apostasias como vemos por aí...
A paz do Senhor "andimarj" Não vamos encerrar aqui, a conversa está sendo muito gratificante e edificante.
ResponderExcluirVamos lá:
Como eu disse, é uma crônica e eu não tenho nenhuma preocupação em separá-la dos textos e personagens Bíblicos.
Vou te perguntar uma coisa, quando Pedro disse que "toda profecia da Escritura...Porque a profecia não foi produzida por vontade de homem...Mas os homens falaram pelo Espírito Santo", ele estava falando dos livros cristãos do Novo Testamento? Ou estava falando dos livros judaicos do Velho Testamento?
Bom, você deve saber que as cartas escritas por eles viraram "Novo Testamento" MUIIIITO tempo depois de suas mortes, poderia Pedro estar chamando de "Escritura" sua própria carta, os Evangelhos, as cartas de Paulo?
Obviamente que não. Pedro nem sabia que sua carta ia virar "Escritura".
Quanto a Bíblia católica não ser igual a Evangélica acho que você errou em uma coisa. A Bíblia Católica é a Bíblia Evangélica com mais sete livros e alguns adendos, ou seja, a Bíblia Católica contém a Bíblia Evangélica, porém, a Bíblia Evangélica não contém a católica, então, quando eu disse que são iguais, me refiro que, o que está na tua mão, está na mão do católico, ok?
Concordo com você sobre a mensagem da Igreja, creio que sua mensagem deveria ser a mensagem de Cristo.
Quanto às tuas perguntas no final, você disse que deveríamos nos preocupar em quantas pessoas salvamos?
Na realidade, quem salvou foi Jesus, na cruz, está consumado, Deus não precisa de nós para salvarmos as pessoas, antes de "pregarmos" a mensagem, temos que viver a mensagem, pois, a única mensagem que vale é aquela onde vivemos.
A Palavra é Jesus, o verbo é Jesus, a Bíblia, como você mesmo disse, é só uma escritura.
A questão é que a Religião, principalmente a Evangélica, criou vida, tomou o lugar de Deus.
A "igreja" tomou o lugar de Jesus.
Os evangélicos dizem que "fora" da igreja não há salvação, mesmo que você viva conforme o Evangelho de Jesus, sabem quem é o escritor que eles usam? Paulo, será porque?
Se fizéssemos uma estatística do "foco bíblico" nas mensagens pregadas nas igreja evangélicas, teríamos:
1) Malaquias e o Dízimo.
2) Salomão e prosperidade.
3) Mortes e castigos (aqui engloba desde Adão e Noé até o último livro do VT).
4) Paulo.
5) .......etc, etc, etc... 999)
1000) Jesus.
1001) Amor.
Jesus apareceria em milésimo lugar.
Fique na paz de Cristo,
Odlave Sreklow.
Odlave, só para constar e talvez dar um certo equilíbrio às críticas contra Paulo, posto aqui o que postei lá no bill:
ResponderExcluir"Ele foi de fato, o construtor do cristianismo. Sem ele, os seguidores de Jesus continuariam a ser uma seita dentro do judaismo e talvez nunca tivéssemos ouvido falar dele.
Foi a teologia paulina que deu a sustentação teórica para a nova religião que dominaria por fim, um império.
Na contracapa do livro Neil Elliot, autor do livro "libertando Paulo", ed Paulus, está escrito:
"Ao longo da história, Paulo foi muitas vezes usado como arma para reforçar a vontade dos donos de escravos, ou para justificar a violência contra as mulheres, judeus, homossexuais, pacifistas.."
Vale a leitura do livro.
Eduardo,
ResponderExcluirValeu,
Percebo então que não estou "viajando" quando relato que tenho um "pé atrás" quando o assunto é o sr. Paulo de Tarso.
Abraços,
Odlave Sreklow.
Parabéns pelo inspirado ensaio
ResponderExcluirUm libelo poético contra o fisiologismo eclesiástico dos dias atuais.
Abçs,
Levi B. Santos